Como funciona o 3D Touch dos novos iPhones
Por Pedro Cipoli | 19 de Outubro de 2015 às 16h21
Desde os iPhone 4 e 4S, a Apple faz um “Tic-Tac” em seus lançamentos: em uma geração muda o visual do aparelho e adiciona um ou outro recurso (quando muda a numeração), em outra melhora o que já existe (adiciona um “S” ao lado do número). Recentemente a empresa tem usado as gerações “Tac” para introduzir um novo recurso, meio que testando a receptividade dele para o próximo “Tic”.
No iPhone 5s tivemos a introdução do Touch ID, que hoje faz parte do dia a dia da maioria dos usuários do iOS. Agora, com o iPhone 6S a Apple introduziu o 3D Touch, o que exigiu um quase completo redesign dos componentes internos, ainda que tenha mantido o visual externo praticamente intacto. Para explicar o que ele é, vamos primeiro entender o como ele muda a interação com o iPhone, e depois entender o que acontece internamente.
Entendendo os “Peeks” e “Pops”
Toda a tecnologia do 3D Touch foi criada para esses dois gestos. Para simplificar, vamos imaginar que o usuário tenha 3 níveis de pressão geralmente aplicados à tela. O mais simples é o próprio clique, um toque rápido para acionar uma função pré-definida, como abrir um app. O 3D Touch entra em ação ao clicar com apenas um pouco mais de força, ativando o “Peek” e, ao clicar com um pouco mais de força (sem deixar de clicar na tela), ativamos o “Pop”. Basicamente, são três níveis de pressão pré-definidos.
Como isso funciona na prática? Imagine que o seu amigo mande um link por e-mail, por exemplo. Antes do 3D Touch, a única opção disponível era clicar nesse link e abri-lo no navegador, alternando entre o app de e-mail e o navegador. Agora, ao aplicar um pouco mais de força com o dedo, você vê uma prévia do que será visto (Peek), não saindo do e-mail, e vendo se realmente vale a pena abrir o link para ver o conteúdo. Se interessar, basta aplicar um pouco mais de pressão para abri-lo completamente, acionando o “Pop”.
Esse é um exemplo bastante simples, mas não é a única aplicação do 3D Touch, que está integrado com boa parte dos apps fabricados pela Apple e cada vez mais integrado a apps de terceiros, como o Instagram. Antes de vermos mais exemplos, vamos entender o que acontece dentro do iPhone.
"Engrenagens" internas
Ao contrário do que possa parecer, o 3D Touch exige um hardware específico para funcionar posicionado diretamente atrás da tela. Não é um recurso exclusivamente de software, que poderia ser implementado em qualquer smartphone com um update, de forma que gerações anteriores dos iPhones não terão essa função (nem mesmo o iPhone 6). Esse hardware interno é uma derivação do que a Apple fez com os trackpads dos MacBooks, introduzidos recentemente nas últimas gerações.
O princípio de funcionamento é exatamente o mesmo, na verdade. Uma combinação do “Force Click”, que responde de forma diferente com um clique mais forte através do “Haptic feedback”, que simula uma resposta semelhante ao clique físico usando componentes eletromagnéticos. O trackpad (ou a tela) não sem movem, mas dão a impressão de um movimento físico, graças ao “Taptic Engine”, que controla a resposta com diferentes níveis de força.
Basicamente, há uma camada de componentes eletromagnéticos embaixo da tela que oferecem um feedback tátil para diferentes níveis de pressão, sem que a tela se mova. Por serem programáveis, diferentes níveis de pressão causam diferentes ações, naturalmente com objetivos diferentes no Mac (Force Touch) e iPhone (3D Touch). Se são quase a mesma coisa, por que tem nomes diferentes?
- É possível ajustar os níveis de pressão para ativar o 3D Touch. Vá em "Settings", "General", "Accessibillity" e depois em "3D Touch"
Há respostas diferentes para isso. De um lado temos a Huawei, que introduziu no mercado um smartphone com “Force Touch”, de forma que a Apple, em teoria, teria que usar um nome diferente para evitar problemas. De outro, bom, ainda que usem o mesmo princípio, a implementação é diferente, então a Apple teria, nesse caso, escolhido um nome mais “fashion” no iPhone. Em qualquer um dos casos, são nomes diferentes para a mesma coisa.
Quais apps usam o 3D Touch em casos reais?
Um dos segredos de sucesso da Apple é introduzir um recurso já bem implementado em seus próprios apps, o que estimula fabricantes terceiros a usar esse recursos em seus próprios apps por verem um valor real em fazê-lo. No lançamento dos iPhone 6S e 6S Plus, um dos grandes focos da Apple foi no Live Photos, que une um disparo diferenciado de câmera (que junta segundos antes e segundos depois de uma foto em um mini vídeo), com o 3D Touch, que ativa o vídeo. Outro exemplo é o Apple Maps.
O próprio app de câmera do iPhone já está habilitado para o 3D Touch, que abre um mini menu com funções específicas, poupando o tempo de quem quer tirar uma selfie ou gravar um vídeo em slow-motion, por exemplo. O Instagram é um bom exemplo de app de terceiro que já está habilitado para o 3D Touch, com um mini menu para escolher entrar diretamente na página de atividades ou em um post novo. O Facebook e o Evernote são outros bons exemplos, abrindo opções de escrever um novo post, fazer upload de uma foto ou vídeo ou tirar uma foto.
Ainda são poucos, naturalmente, mas temos que considerar que os iPhone 6s e 6S Plus estão há pouco tempo no mercado. Considerando a rapidez da adoção do Touch ID, que hoje faz parte do uso diário de qualquer usuário do iPhone, não deve demorar muito para uma boa quantidade de apps implementarem a sua versão do 3D Touch, e games em especial podem se beneficar bastante disso. Como era de se esperar, a Samsung já anunciou seus planos de trazer um 3D Touch para a sua linha Galaxy (como fez com o Touch ID), de forma que o Galaxy S7 provavelmente contará com uma variação dele, e, consequentemente, boa parte dos Androids em alguns anos.
Conclusão: revolucionário?
O 3D Touch é certamente um recurso bacana, uma boa novidade que realmente altera a forma que o usuário interage com o smartphone. Se pararmos para pensar, mesmo com a altíssima velocidade de evolução dos smartphones, de qualquer plataforma, a interação com ele permaneceu basicamente a mesma, e por isso o 3D Touch tem sim o seu valor, ainda que não chegue a ser revolucionário, sendo mais um extra interessante.
Infelizmente, ele está restrito somente aos iPhones 6S e 6S Plus até o momento, de forma que usuários de modelos anteriores não poderão tirar proveito dele. Ainda é uma incógnita se a Apple irá usar o 3D Touch nos novos iPads, que provavelmente exigem mais trabalho por trazerem telas maiores. Até o momento, os iPads mais recentes (iPad Mini 4 e iPad Pro) não trazem o recurso, o que provavelmente é um indicativo negativo, mas só resta esperar para ver.
Fontes: CNET 1, CNET 2, India Times, Apple, MacWorld