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Apoiar ou não apoiar campanhas de crowdfunding e novas startups?

Por| 04 de Novembro de 2015 às 12h28

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Apoiar ou não apoiar campanhas de crowdfunding e novas startups?
Apoiar ou não apoiar campanhas de crowdfunding e novas startups?

Nos últimos anos vimos surgir diversas plataformas de crowdfunding mundo afora, como o Kickstarter, o GoFundMe e o Indiegogo, por exemplo; ou ainda os nacionais Catarse e Kickante, que servem como um mediador entre o inventor e o patrocinador. Graças a esses serviços, autores de ideias inovadoras passaram a ter um espaço para apresentar suas propostas com uma meta de investimento para captar, e indivíduos interessados em apoiar - que podem ser pessoas físicas comuns - fazem doações em dinheiro e recebem benefícios caso o projeto atinja o orçamento mínimo.

Plataformas de financiamento coletivo já permitiram o lançamento de produtos incríveis, como o Pebble Time, relógio inteligente que quebrou recordes no Kickstarter arrecadando US$ 20 milhões com 78.471 apoiadores (desse montante total, o primeiro milhão foi arrecadado em apenas 30 minutos). No entanto, oportunistas estão em todos os setores da sociedade e usar sites de financiamento coletivo ou inventar startups para se aproveitar de pessoas e empresas bem-intencionadas pode parecer um bom plano.

O caso LightFreq

Esse parece ter sido o caso de Devon Alli, criador de uma campanha no Kickstarter para financiar a produção do LightFreq, uma lâmpada controlada por aplicativo de celular que, além de iluminar o ambiente, também reproduz músicas e notificações. A campanha, que foi lançada em agosto de 2014, foi um sucesso, sendo divulgada até mesmo por grandes veículos da imprensa internacional. Na primeira investida, o projeto arrecadou mais de US$ 275 mil, sendo que a meta inicial era de US$ 50 mil.

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Como seria a lâmpada-musical LightFreq (Reprodução: Kickstarter)

O que parecia ser mais um case de sucesso acabou se tornando uma verdadeira novela, cujo capítulo final ainda não foi ao ar. Ao final da campanha, a Dynamo, companhia que trabalhou no desenvolvimento do projeto, exigiu que Devon pagasse sua parte, mas o pagamento nunca foi realizado. Depois, em junho de 2015, já com o prazo de envio dos produtos aos apoiadores vencido, Devon decidiu criar uma nova campanha em outra plataforma, o Indiegogo, anunciando o LightFreq Square 2, uma espécie de upgrade da primeira versão.

A segunda campanha acabou sendo encerrada pelo site após reclamações, mas chegou a arrecadar mais de US$ 70 mil. Já no mês de agosto, um ano após a campanha inicial do Kickstarter, seus apoiadores receberam uma mensagem com um pedido de desculpas pelo atraso informando que, dentro de alguns dias, eles receberiam um contato a respeito do envio, que até agora ainda não foi feito.

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Indignados com o possível golpe, backers do projeto entraram em contato com o Kickstarter e com o Indiegogo e ficaram insatisfeitos com as respostas recebidas, restando o desejo de que esses serviços tenham alguma forma de proteger as pessoas que investem em projetos ali anunciados. Ao investigar o caso, o jornalista Ben Woods, do site The Next Web, acabou descobrindo que as plataformas não realizam uma checagem prévia aprofundada dos projetos, o que pode dar margem para golpistas usarem os serviços para enganar usuários.

O procedimento de segurança que é feito envolve a checagem da identidade do autor, somente. No caso de Devon Alli, sua identidade foi confirmada e, mesmo que ele tivesse um longo histórico de acusações criminais (incluindo assalto à mão armada, falsificação e posse de arma de fogo), seu projeto foi aprovado como legítimo. O repórter tentou contato com Devon, mas sua conta de e-mail retornava com erro, seus telefones estavam desconectados e até mesmo o site do LightFreq já estava fora do ar. E o prejuízo ficou nas mãos dos 2.256 apoiadores que não terão o seu dinheiro devolvido, tampouco receberão o produto desejado.

"Mugshot" de Devon Alli em uma das diversas vezes em que foi detido pela polícia norte-americana (Reprodução: Mugshots.com)

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Startup dor-de-cabeça

Outro caso polêmico, dessa vez envolvendo startups e investimentos empresariais, tem sido o da Theranos, uma empresa de biotecnologia encabeçada por Elizabeth Holmes, uma jovem empresária do Vale do Silício cuja fortuna é estimada em US$ 4,5 bilhões. A proposta da empresa é realizar diversos exames de sangue de maneira mais rápida e barata. Para tal, a startup criou uma forma de detectar mais de 240 tipos de doenças, como hepatites, problemas cardíacos e até câncer, fazendo a coleta de apenas três gotas de sangue do paciente em farmácias parceiras, dispensando a necessidade de ir a um laboratório específico.

A empresária Elizabeth Holmes segurando uma pequena amostra de sangue, quantidade que seria necessária para a realização dos exames de sangue pela Theranos (Reprodução: USA Today)

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Com a promessa de revolucionar o sistema de saúde dos Estados Unidos, a empresa arrecadou mais de US$ 400 milhões em investimentos desde o ano passado, mas, nos bastidores, enfrentou dificuldades para transformar o sonho em realidade. Até o final de 2014, a startup conseguiu realizar apenas uma pequena quantidade de exames, de acordo com antigos funcionários. Questionamentos quanto à precisão da máquina desenvolvida pela Theranos para realizar os exames foram levantados e, caso comprovada a falha, a empresa poderia ser acusada de violar leis federais. No entanto, a empresária e seu advogado seguraram informações importantes sobre o funcionamento da máquina e seus métodos, alegando sigilo.

Após uma matéria-denúncia publicada no Wall Street Journal, a Theranos tirou de seu website a informação que dizia serem necessárias apenas três gotas de sangue para a realização dos exames, pois, na reportagem, foi feita a acusação da empresa estar realizando testes usando máquinas tradicionais - ou seja, indo contra o prometido ao público e aos investidores.

E como saber qual projeto apoiar?

Essa não é uma resposta fácil, já que o mercado de startups e as plataformas de financiamento coletivo são relativamente novos e ainda não possuem um órgão específico para regulamentar suas atividades.

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O caso da Theranos e do LightFreq são exemplos do que pode acontecer quando uma proposta de inovação gera um buzz na mídia, empolgando pessoas e empresas que desejam que aquela tecnologia seja colocada no mercado com sua ajuda, mas sem que tenha havido uma pesquisa e testes científicos adequados em primeiro lugar.

Apesar dos sites de crowdfunding apresentarem crescimento constante, o brasileiro ainda é receoso quanto a realizar transações na internet e também não está muito familiarizado com esse tipo de serviço. Em entrevista ao caderno Link, do Estadão, a pesquisadora Monica Penido diz que “as pessoas têm medo de divulgar dados de cartão de crédito na internet, impossibilitando o apoio a projetos”. Penido acredita que “o comportamento colaborativo [no Brasil] parece ainda estar circunscrito ao círculo íntimo de cada apoiador de projetos”.

No entanto, há uma luz no fim do túnel que pode inspirar mais confiança no público geral para entrar de cabeça nesse tipo de investimento. No início de setembro, o deputado federal Otávio Leite protocolou na Câmara um projeto de lei visando regulamentar a atuação de empresas de crowdfunding no país. A expectativa é deduzir 10% no imposto de renda do valor investido pelos apoiadores, número que poderá subir para 50% no caso de apoiar projetos sociais.

Um dos artigos do PL determina que os autores das campanhas serão os únicos responsáveis pela execução dos projetos. Ou seja, em caso de problemas, o apoiador poderá exigir judicialmente o retorno do dinheiro investido. Porém, Fátima Lemos, assessora técnica do Procon-SP, não acredita que os sites de financiamento coletivo devam ser isentos de responsabilidade.

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Para ela, “os sites podem dizer que o usuário não pode reclamar se não receber a recompensa, mas é possível sim”. Lemos comparou os sites de financiamento coletivo ao MercadoLivre, que inicialmente se posicionava como anunciante das ofertas, mas logo passou a ser considerado legalmente corresponsável pelos anúncios oferecidos em sua ferramenta. “Para o Procon e do ponto de vista do Código de Defesa do Consumidor, sites que fazem essa intermediação têm responsabilidade”, afirma a assessora.

Fontes: The Next Web, Slate, The Wall Street Journal, Estadão