Publicidade

Star Wars: O Despertar da Força traz o legado da série à nova geração

Por| 17 de Dezembro de 2015 às 13h16

Link copiado!

Star Wars: O Despertar da Força traz o legado da série à nova geração
Star Wars: O Despertar da Força traz o legado da série à nova geração

Esta crítica NÃO contém spoilers

Assim que as luzes do cinema se acenderam, o rapaz ao meu lado não escondia o sorriso no rosto e, olhando para mim, confessou: "Eu não achava que a Disney ia conseguir". Sentado na ponta da poltrona com uma camiseta de Star Wars, ele era o retrato de uma pessoa que saiu extasiada de uma das pré-estreias mais aguardadas do ano. Quiçá da década.

E essa não foi uma reação exagerada de um fã. Star Wars: O Despertar da Força é realmente tudo isso e talvez até mesmo um pouco mais. O retorno da popular série, desta vez pelas mãos da Disney, faz jus a todo o legado construído até aqui e ainda consegue dar sequência à história clássica de maneira incrível. É o nascer de uma nova geração de heróis e vilões que se conecta com tudo aquilo que vimos ao longo dos últimos quase 40 anos.

Tudo isso graças ao excelente trabalho do diretor J.J. Abrams. Como um verdadeiro fã, ele respeita a trilogia original e a referencia a todo momento, mas não usa isso de muleta para cair no fan service. Os elementos de Uma Nova Esperança, O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi estão todos lá, mas como parte de um passado distante que não ofusca o surgimento e a jornada de crescimento dos novos personagens. No fim das contas, O Despertar da Força é um filme sobre essa passar de bastões. É uma nova geração de Star Wars — e isso não poderia ser mais positivo.

Continua após a publicidade

Um universo em movimento

O maior acerto de O Despertar da Força é acreditar em seus personagens. Ainda que Han Solo, Chewbacca e Leia sejam peças fundamentais de toda a trama, eles são coadjuvantes de luxo para uma leva de heróis e vilões que conseguem segurar as pontas deste início de trilogia. E o roteiro em torno desses novatos é tão bem construído que não é preciso mais do que alguns minutos para que você passe a se importar com eles. Eles dosam carisma com profundidade e se encaixam perfeitamente dentro desse novo universo pós-queda do Império. Eles fazem parte do que restou daquela galáxia muito, muito distante.

Por incrível que pareça, o grande destaque por aqui é exatamente o robozinho BB-8. Assim como R2-D2 em Uma Nova Esperança, é ele quem vai criar as amarras entre todos os núcleos de personagens e fazer com que as rodas do destino comecem a girar. Isso sem falar, é claro, do seu carisma. A pequena e curiosa bolota rouba a cena todas as vezes em que aparece e consegue ser muito mais expressivo que seu antecessor.

Continua após a publicidade

Mesmo com bips e bops, você consegue entendê-lo perfeitamente nas suas conversas com Rey e Finn. Quase como Wall-E, ele fala muito apenas pela sua expressão e isso é fantástico, já que ele funciona não só como esse elo entre as histórias, mas também como um excelente alívio cômico. Tenha certeza: você vai sair do cinema querendo um BB-8 para você.

A nova dupla de heróis também funciona muito bem. A dinâmica entre Rey e Finn é muito boa desde as suas primeiras interações, mostrando o Stormtrooper que quer fugir dos domínios da Primeira Ordem e a garota que sonha com a Resistência. Por mais que a relação entre os dois seja recheada de humor, eles também estão envolvidos em várias sequências de ação naquele mesmo estilo que tanto vimos na trilogia original. Eles são duas pessoas comuns que acabaram se envolvendo em uma enorme guerra e o modo como eles lidam com isso é sensacional.

Porém, não há como negar que a verdadeira estrela de Star Wars: O Despertar da Força é Kylo Ren. O novo vilão sempre esteve envolto em muito mistério e o diretor J.J. Abrams não quis esperar as sequências para revelar um pouco de quem é esse personagem e suas motivações. Embora não seja nenhuma novidade termos alguém ligado ao lado sombrio da Força roubando a cena, a coisa aqui é um pouco mais profunda, já que há um aprofundamento bem maior em todas essas questões ligadas ao seu passado. Por mais que as revelações não sejam tão surpreendentes assim, elas fazem muito sentido e dão força ao roteiro e a tudo o que vem a seguir.

Continua após a publicidade

Aliás, a relação entre Kylo Ren e Darth Vader é um dos pontos altos de todo o filme. Como vimos nos trailers, ele possui uma admiração enorme pelo ícone do Império e logo sabemos o porquê. E essa relação faz todo o sentido dentro do que é proposto até mesmo em termos metalinguísticos. Em determinado momento, Ren conversa com a máscara destruída de Vader e diz temer não ser capaz de ser tão grande quanto ele. E, quando fala isso, ele não se resume apenas a ser uma peça importante para o Império, mas um vilão tão icônico quanto. É uma responsabilidade enorme e você sente esse desconforto a todo momento.

E isso está longe de ser algo ruim, pois consegue dar profundidade ao personagem. Kylo Ren é alguém cheio de conflitos e a sua evolução é a mais nítida dentro de O Despertar da Força. Se você estava em dúvida porque alguém mascarado estava tendo tanto destaque na divulgação, logo entende o porquê. Sem dúvidas, uma das melhores adições desta nova trilogia.

Passando o bastão

Continua após a publicidade

Já em relação ao antigo elenco, não há como não se empolgar. Tanto que, na sessão de pré-estreia, a aparição de cada um dos velhos heróis era motivo de comemoração na sala, com gritos e palmas. E o próprio filme é montado para que isso aconteça, com pequenas pausas para que o público possa digerir aquelas entradas.

Só que Star Wars: O Despertar da Força não usa essas presenças ilustres apenas como figuração de luxo. Era muito fácil se aproveitar dos antigos heróis e colocá-los dentro da história de qualquer forma apenas para animar os fãs e atrair o público para esse recomeço da série. Exemplos de fan service assim não faltam. Porém, o que vemos aqui é algo que respeita muito a essência desses personagens e explora o que aconteceu com cada um deles após O Retorno de Jedi, mas sem tirar o foco dos novatos.

É claro que Han Solo e Chewbacca roubam a cena tão logo aparecem, mas tudo tem um propósito. É impossível apagar a presença de personagens tão marcantes, mas você logo percebe a importância dessa dupla dentro desse novo contexto. Mais do que passarem o bastão (algo que acontece quase que literalmente) e servirem de mentores à nova geração, eles são parte fundamental tanto do que está acontecendo quanto da transformação dos novos heróis. Solo e Chewie representam melhor do que ninguém o legado das quase quatro décadas de Star Wars ao longo das 2h15 de O Despertar da Força.

Continua após a publicidade

Legado das Estrelas

Já em termos de história, a galáxia se encontra exatamente como muita gente previra desde os primeiros trailers. Com o fim do Império, duas forças se enfrentam para ocupar o vácuo de poder deixado. De um lado, a Primeira Ordem tenta reerguer aquilo que restou do governo de Palpatine enquanto, do outro, a Resistência tenta trazer de volta a República enquanto busca por Luke Skywalker, que segue desaparecido por algumas décadas.

Em termos de estrutura, Star Wars: O Despertar da Força é muito parecido com Um Nova Esperança. Desnecessariamente parecido. É claro que há muito referência ao início da antiga trilogia, mas toda a construção da trama, os conflitos e até mesmo algumas situações são exatamente as mesmas. É claro que é ótimo ver a batalha contra a Estrela da Morte sendo citada visualmente, mas não há como negar o incômodo causado por esse dejà vu.

Continua após a publicidade

Ao mesmo tempo em que o novo filme conseguiu escapar do fan service com seus personagens, ele não tem o mesmo sucesso na construção da trama. É claro que há diferenças aqui e ali, mas são muito mais por conta dos seus personagens do que pela narrativa. É impossível não ver o Episódio IV em praticamente todas as cenas e situações apresentadas. Todas.

Até mesmo a Jornada do Herói está ali, tal qual como em 1977. A ideia era mesmo fazer um paralelo entre Rey e Luke, mas a trama se aproxima tanto de Uma Nova Esperança que acaba perdendo um pouco a mão. É como se você visse o mesmo filme, mas com outros personagens.

Isso não quer dizer, porém, que O Despertar da Força é ruim. Muito longe disso. Ele é um dos melhores Star Wars e está muito à frente dos últimos três filmes — ainda que essa não seja uma tarefa tão difícil assim. Tudo ali tem impacto, profundidade e razão de existir, o que já o torna muito mais relevante que os Episódios I e II, por exemplo.

E o fator mais importante nesse sentido é o ritmo. Já vimos em Star Trek, por exemplo, que J.J. Abrams consegue fazer um filme especial bastante agitado, seja pelas cenas de ação ou pela velocidade com que as coisas acontecem, mas sem ser idiota. Esqueça Transformers, Homem de Aço ou qualquer um desses filmes que acham que basta seguir numa crescente para que o público fique animado.

Continua após a publicidade

O Despertar da Força tem várias curvas narrativas feitas para o espectador respirar, digerir o que foi apresentado e criar a tensão e a carga dramática necessárias. Há piadinhas ao melhor estilo Marvel e muita correria e explosão, mas também há aqueles momentos em que ninguém fala nada e, ainda assim, você senta na ponta da poltrona preocupado com o que vai acontecer a seguir. E é aí que você percebe o poder da direção em um longa dessa magnitude.

O poder do mito

Se você estava preocupado com os novos rumos que a Disney iria dar ao universo Star Wars, pode respirar aliviado. O Despertar da Força soube aproveitar não apenas o universo da série, mas o enorme legado deixado. Ele abre um enorme leque de possibilidades que podem ser exploradas nos próximos filmes. Se depender do que vimos por aqui, as sequências podem ser tão grandiosas quanto os episódios V e VI.

Continua após a publicidade

O segredo para isso está em criar personagens fortes. Jamais será possível ter um novo Luke ou um novo Han Solo — e é por isso que os velhos estão de volta. No entanto, ao trazer toda uma nova geração de heróis e vilões, vemos aquilo que o universo expandido já tinha nos mostrado antes: o quanto é possível ir além. Rey, Finn, Kylo Ren e até mesmo BB-8 são os maiores exemplos disso.

Mesmo com alguns tropeços, o roteiro carrega todo um simbolismo que o torna relevante tanto para a franquia quanto para o próprio momento que estamos vivendo. A presença de uma protagonista mulher e um negro é muito bem explorada em diversas situações e mostra o quanto é importante ir além do padrão de herói que estamos acostumados a ver. Ainda assim, Rey e Finn são ótimos personagens não apenas pelo que eles representam, mas pelo modo como eles são construídos. Quatro décadas depois, Star Wars segue muito importante.

Star Wars: O Despertar da Força é o retorno que todos os fãs esperavam. O diretor J.J. Abrams conseguiu resgatar tudo aquilo que faz da série ser um ícone do cinema, tanto pela sua história marcante quanto por trazer aquele mundo fantástico de volta. Assim como o rapaz ao meu lado no cinema, você pode armar aquele sorriso ao sair do cinema e dizer que, sim, a Disney conseguiu.