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A história cheia de idas e vindas do botão do hambúrguer

Por| 04 de Fevereiro de 2016 às 09h33

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Todd Hamilton/Dribble
Todd Hamilton/Dribble

Em 1981, a Xerox lançou no mercado o Xerox Star, nome comercial do Xerox 8010 Information System, um dos computadores mais inovadores de todos os tempos. Ele recebe esta classificação por ter inaugurado uma série de elementos que se tornariam padrão na indústria de computadores pessoais ao longo das décadas seguintes.

Um desses elementos é um menu de contexto cujo botão é formado por três linhas posicionadas uma sobre a outra. A este ícone se dá o nome de botão do hambúrguer e ele está em basicamente todas as interfaces da atualidade, de aplicativos para tablets e smartphones até sites da internet. Apesar de ter um apelo moderno e dar a impressão de que foi concebido para os dias de hoje, onde tudo precisa ser compacto e versátil para se adaptar a diferentes tamanhos de tela, este botão existe desde a década de 80.

Origem: possibilidades e necessidades

O botão do hambúrguer surgiu pelas mãos do Norm Cox. Você pode nunca ter ouvido falar dele, mas este sujeito é o designer gráfico por trás de outro ícone bastante conhecido na atualidade, a folha em branco que indica um novo documento em diversos editores (de texto, planilhas ou imagens, entre outros). Mas lá em 1981, Cox era um funcionário da Xerox trabalhando como consultor de design de experiência e de interação na plataforma Xerox Star.

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Botão estreou em 1981. (Foto: Reprodução/Vimeo)

Responsável por criar os elementos daquela que seria a primeira interface gráfica do mundo, Cox pensou em algo que fosse ao mesmo tempo fácil de memorizar e lembrasse um menu em forma de lista, que incitasse nas pessoas a ideia de que várias informações estariam agregadas ali.

“O botão foi graficamente desenvolvido para ser simples como uma placa de trânsito, ser funcionalmente memorável e se parecer com resultados exibidos em uma lista”, escreveu Cox em 2014, em e-mail direcionado ao designer gráfico Geoff Alday. “Com poucos pixels para trabalhar, foi difícil ser distinto e simples ao mesmo tempo. Acredito que tivéssemos apenas 16x16 pixels para renderizar a imagem (ou possivelmente 13x13, não me lembro exatamente)”, prosseguiu.

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Ostracismo e retorno triunfal

O botão do hambúrguer sumiu das interfaces após ser empregado no Xerox Star, caindo em um longo ostracismo durante os anos seguintes. O final da década passada marcou o seu retorno, e isso se deve basicamente à mesma razão da sua criação: espaço limitado para desenvolvimento.

As primeiras ocorrências de uso deste botão depois do Xerox Star foram no Voice Memo do iOS, lançado em junho de 2009, e no aplicativo da rede social Path, lançado em novembro de 2010. A lógica em ambos os casos era a mesma: aproveitar o espaço reduzido das telas de smartphones para incluir um botão de menu. Após outros aplicativos se apropriarem da ideia, foi a vez do Facebook apostar nela: o botão de menu com três barras foi incluído no app da rede social para iOS e virou febre.

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O começo do retorno do hambúrguer. (Foto: Luke Bornheimer/Quora)

Os desenvolvedores do Facebook reuniram toda uma grade de botões que davam acesso a todas as funções da rede em um só lugar, representado pelo agora glorioso ícone. Era o resgate definitivo do botão do hambúrguer, que a partir de então virou figura carimbada em aplicativos para smartphones e tablets. Daí para ganhar a web foi um pulo e, atualmente, é possível notar o botão em páginas da internet e também nos principais navegadores.

O mais eficiente... Ou não

A popularização de algo é um atestado de competência, certo? Nem sempre. Ou, ao menos no caso do botão do hambúrguer, nem todos os desenvolvedores de apps acreditam nisso. Em uma pesquisa feita no ano passado, o desenvolvedor neozelandês James Foster analisou durante um ano a interação entre usuários e o ícone. O resultado demonstrou uma popularidade bem inferior àquela imaginada por quem aposta no botão.

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“Todos os resultados foram iguais: o ícone não é tão claro para alguns usuários quanto querem acreditar os desenvolvedores e designers”, disse Foster à BBC. Segundo os dados levantados por ele, o uso da palavra “menu” abaixo do botão eleva o seu uso em 7,2%. Já adicionar as três barras dentro de uma caixa, deixando tudo com um aspecto de botão, incrementa o uso em 22,4%. Até mesmo trocar o botão pela palavra “menu” parece bastante eficaz, o que aumentou o uso em 20%.

“É muito fácil não perceber que [o símbolo] está ali”, comenta o pesquisador. “Para cada pessoa, ele significa uma coisa diferente. Ele não diz explicitamente que aqui tem mais coisas para ver”, conclui, contrariando a intenção de Norm Cox ao criar o botão há mais de três décadas. E a tese de Foster é compartilhada por outros especialistas da área, como o designer Louie Abreu, que escreveu um longo tratado a respeito do tema. No texto, ele explica que o ícone prejudica o engajamento do público justamente porque nem sempre é notado por quem utiliza um aplicativo ou navega pela web.

Ele comenta ainda o fato de que botão do hambúrguer não permite ao usuário identificar o conteúdo ali armazenado até que ele o abra. Isso cria uma série de obstáculos para que as pessoas encontrem informações ou visualizem notificações, por exemplo, criando um excesso de botões e telas que prejudica a fluidez da experiência de uso.

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A barra de abas pode ser uma solução mais útil do que o hambúrguer. (Foto: Reprodução/TechCrunch)

Uma nova fase de esquecimento?

No lugar do hambúrguer, Abreu defende o uso da tradicional barra de abas, aquelas que reúnem vários ícones e até mesmo um botão de menu que oculta informações menos imediatas. Isso já acontece atualmente na maioria dos apps de redes sociais, inclusive no Facebook.

A tentativa de deixar uma aplicação com o visual mais limpo — algo para o qual o botão das três listras pode ser útil — pode deixar a interface limpa até demais, prejudicando o nível informacional do principal ponto de contato entre um usuário e uma aplicação. Conforme o mundo vai renovando este conceito, a eficácia do hambúrguer vai sendo colocada em xeque e a sua existência está em risco outra vez.

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Fontes: BBC, TechCrunch, Geoff Alday, Louie Abreu, Cox & Hall