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Deadpool é diversão em meio ao caos

Por| 08 de Fevereiro de 2016 às 11h35

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Deadpool é diversão em meio ao caos
Deadpool é diversão em meio ao caos

Deadpool não é nada daquilo que você espera de um filme de super-heróis. Violento ao extremo, ele não pensa duas vezes antes de soltar um palavrão, desmembrar um inimigo ou de expor nudez na tela. Também não se importa em criar uma história que destaque o que é ser um herói ou coisa parecida. Na verdade, ele tampouco se leva a sério. E é esse o seu maior trunfo.

Essa foi uma jogada arriscada. Não é segredo para ninguém que a produção do filme foi bastante conturbada e por muito pouco ele não se tornou um projeto engavetado, principalmente após o fracasso de X-Men Origens: Wolverine. No entanto, foi a partir de um trailer "vazado" que os próprios fãs do personagem se mobilizaram na internet e mostraram à Fox o potencial existente por trás do Mercenário Tagarela.

E a única exigência desse público quanto ao que o estúdio deveria manter o espírito anárquico do anti-herói nas telonas. E é exatamente isso o que encontramos em Deadpool, que traz todo o caos, a violência e o humor ácido e negro que acompanha o personagem. Mesmo correndo o risco de perder uma boa parcela do público graças a classificação indicativa mais elevada, a produtora optou por ouvir os fãs e foi exatamente isso que fez com o longa fosse tão divertido.

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Caos em vermelho

Deadpool acerta muito bem ao mesclar o humor com as cenas de ação. Assim como nos quadrinhos, o personagem é altamente caótico, brutal e, ao mesmo tempo, engraçadíssimo. E o roteiro, apesar de raso, sabe explorar muito bem essas duas características para criar algo muito divertido.

Parte disso é porque ele não economiza no politicamente incorreto. Em tempos em que muito se discute sobre o tema, o filme consegue brincar muito bem no limite do aceitável e do chocante, mas sem ofender ninguém. Para isso, ele olha para si mesmo e para todo o gênero de super-heróis para transformá-lo em uma grande piada. Nada é mais ridículo do que um bando de marmanjo com uniformes coloridos e Deadpool faz questão de destacar isso.

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Por isso, ele brinca muito com o gênero e com os clichês que os permeiam. A todo momento o filme tem ótimas tiradas sobre algo que a gente já se acostumou a ver nos filmes da Marvel e da própria Fox, o que faz com que o Mercenário Tagarela se transforme em uma espécie de olhar irônico de dentro para fora desse universo. Por isso, quando ele diz que as poses de aterrissagem não fazem o menor sentido ou brinca sobre a sexualidade de Batman e Robin, o público se sente realmente próximo desse personagem que, para muitos, é um enorme desconhecido.

Só que, mais do que isso, o grande trunfo de Deadpool é a autorreferência. Assim como nas HQs, o filme sabe rir de si mesmo e de todos aqueles que estão envolvidos no projeto. É por isso que ele vai brincar sobre o seu próprio uniforme, seus exageros visuais e sobre o próprio universo no qual ele está inserido. Como se passa no mesmo mundo de X-Men, temos piadas sobre Wolverine, Hugh Jackman — tratado várias vezes como "o homem mais sexy do mundo" —, os mutantes e a própria Fox. Afinal, a cronologia do estúdio é tão confusa que é impossível não tirar sarro.

Nem mesmo o ator e seu histórico são perdoados. Vemos várias menções a Ryan Reynolds, menções ao fracasso de Lanterna Verde e até à primeira tentativa de levar Deadpool para os cinemas. São tantas autorreferências e brincadeiras que você logo deixa de se importar com os vários problemas do filme para se concentrar naquilo que ele tem de melhor: sua capacidade de não se levar a sério. É uma nova forma de ver o mundo dos super-heróis, completamente descompromissada e diferente da habitual. Era algo que faltava no meio.

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Além disso, Deadpool replica algo que funciona muito bem nos quadrinhos, que é a quebra da quarta parede. O personagem está a todo momento conversando com o espectador e ciente de que está dentro de um filme, fazendo comentários ou ironizando a situação. Esse é um recurso bem comum nas HQs e que muitos acreditavam que não funcionaria nas telonas. Porém, agora que o Mercenário Tagarela está entre nós, podemos ver que essas previsões não poderiam estar mais erradas — principalmente na ótima cena pós-créditos.

A profundidade de uma poça

Ok, a adaptação de Deadpool funcionou muito bem como conceito, mas como isso tudo se aplica na prática? Afinal, o importante em um filme é a história que ele conta e não apenas o personagem que ele apresenta. E é aí que a coisa se complica um pouco.

Lembra quando dissemos que o carisma do personagem nos faz esquecer um pouco dos problemas do longa? Pois é no roteiro que essas falhas aparecem, principalmente na profundidade quase nula de seu argumento.

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Se você assistiu a alguns dos trailers de Deadpool, já viu tudo aquilo que precisa saber sobre a trama. Na história, o mercenário Wade Wilson desenvolve um tipo agressivo de câncer e, para tentar se salvar, se voluntaria a um programa que o salva em troca de poderes mutantes artificiais. O problema é que isso faz com que ele fique absurdamente feio e imortal, ou seja, o pretexto ideal para correr atrás dos responsáveis por isso. Afinal, quem não ficaria sedento por vingança se fosse transformado em um sósia do John Malkovich?

Parece piada, mas esse é realmente o roteiro de Deadpool. É claro que há uma coisa ou outra no meio de campo, como um romance com uma ex-prostituta e a própria relação com os X-Men, mas o importante é saber que o argumento do filme é bem raso. Não que alguém esperasse algo diferente, já que nem mesmo nas HQs o personagem é conhecido por seus grandes arcos, mas é bem frustrante ver o quanto tudo é simples e banal.

Por outro lado, ele consegue pegar essa trama vazia e recheá-la de bons momentos. O personagem brinca várias vezes com seus clichês de modo que a quebra de expectativa consegue transformar a fragilidade da história em algo quase imprevisível. E, apesar de tudo, ele consegue conduzir toda a narrativa de modo a fazer com que ela não caia em um lugar comum. No fim das contas, Deadpool continua sendo a sua figura anárquica do começo ao fim — o que é excelente.

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Ainda assim, você sente muito bem as quebras dentro da trama. Os momentos em que o mercenário aparece com seu clássico uniforme são ótimas e fazem você se divertir sem parar. Contudo, quando isso é deixado um pouco de lado para focar no homem sob a máscara, o ritmo cai bastante. Wade Wilson tem seus momentos com boas piadas, mas a diferença entre ele e Deadpool são enormes, o que faz com que você fique à espera do retorno do anti-herói como conhecemos.

E parte da culpa disso é do próprio Ryan Reynolds. Como qualquer outro filme de sua carreira já deixou bem claro, ele é um ator muito limitado e, por mais que Deadpool não exija nenhuma grande capacidade de atuação, você sente a diferença de quando ele precisa estar na frente da câmera com a cara limpa e quando temos o Deadpool. E como Reynolds faz questão de mostrar a cara por quase metade do longa sem a fantasia completa, isso compromete bastante.

Pancadaria de qualidade

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Se o roteiro não empolga pela história que conta, ele tenta compensar isso com o humor e também com as excelentes cenas de ação. Deadpool foi criado nas HQs em plenos anos 90, no auge da "era dos trabucos", uma época em que todo personagem de histórias em quadrinhos tinha de ser extremo e violento, com armas de diferentes tipos. E o Mercenário Tagarela trouxe tudo isso ao misturar armas de fogo e espadas com muita brutalidade.

A Fox decidiu manter isso intacto no filme. Tanto que o primeiro trailer do filme já nos mostrava muito bem como isso ia funcionar, quando o personagem acertava a cabeça de três inimigos com um único tiro. Só que as coisas não se limitam a isso e temos ótimas cenas de pancadaria ao longo de toda a produção.

Deadpool não economiza nos exageros dos efeitos especiais e isso tampouco incomoda. Na verdade, é o tipo de brincadeira que dá todo o charme às lutas, com muitos rodopios, cambalhotas e personagens sendo arremessados à distância. E com muito sangue, é claro.

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Isso não é resultado apenas da combinação entre espadas e pistolas do anti-herói. Todas as cenas de perseguição ou de combate corpo a corpo são muito bem-feitas para que você fique sempre na ponta da poltrona tamanha a empolgação com cada pancadaria. Até mesmo os vilões genéricos fazem bonito nesse quesito.

Além disso, temos a participação de outros X-Men. Colossus finalmente ganhou uma representação digna daquilo que sempre vimos nos quadrinhos e, embora seja bem mais burro do que nas HQs, a aplicação de seus poderes rende ótimos momentos. Até a nova mutante Negasonic Teenage Warhead (ou apenas Míssil) também rouba a cena, mesmo com o carisma de uma porta. Mais do que isso, a presença dos dois mostram um novo visual para o uniforme dos mutantes que abre brecha para um vindouro filme dos Novos X-Men ou, quem sabe, um X-Factor já com o Deadpool.

Acerto improvável

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Quem está tendo seu primeiro contato com o personagem certamente vai estranhar aquilo que Deadpool apresenta. Como dito, ele está bem longe de ser um filme de super-heróis convencional e muita gente vai se chocar com o tom que a história apresenta — o próprio protagonista brinca com isso em determinado momento. E essa fuga da fórmula é o que mais se destaca por aqui. Depois de uma enxurrada de tantas outras produções parecidas, é bom ver um ponto tão fora da curva.

É claro que isso não quer dizer que ele não se apoie em alguns lugares comuns, mas é ótimo ver como o filme sabe usar o humor e a quebra da quarta parede como forma de quebrar a expectativa em diversos momentos e apresentar algo novo. É simplesmente impossível tentar prever o que está por vir.

Tudo isso porque Deadpool não se leva a sério em momento algum. Se, em X-Men Origens: Wolverine, a primeira aparição do personagem foi um tremendo fracasso por tentar trazer um ar de seriedade onde jamais existiu, a Fox parece ter entendido que aquilo que os fãs queriam ver em um filme do Mercenário Tagarela era o caos, a bagunça e a anarquia que sempre o acompanhou nos quadrinhos.

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Deadpool nunca foi um exemplo de herói e não seria no seu filme que isso iria mudar.