População de São Francisco sofre os efeitos negativos do Vale do Silício
Por Douglas Ciriaco | 22 de Março de 2016 às 12h00
O Vale do Silício é visto com glamour e brilho nos olhos pela maioria dos interessados em negócios e tecnologia, uma espécie de Meca high-tech para a qual se viram as atenções de startups e entusiastas de várias partes do mundo. Contudo, o prestígio das gigantes da tecnologia em sua própria região parece ter diminuído um bocado ao longo do último ano.
Acusações de tentativa de fraude eleitoral patrocinada pelo Aribnb e o uso das estreitas ruas do município pelos ônibus de companhias como o Google são alguns dos pontos que começam a desagradar a população da região. De acordo com pesquisa do Instituto de Políticas Públicas da Califórnia realizada em dezembro de 2015, 39% dos adultos da região da baía de São Francisco acreditam que os negócios estão caminhando na direção errada — no final de 2014, apenas 29% da população adulta pensava assim. Por outro lado, em Los Angeles, também na Califórnia, a desaprovação caiu de 37% para 33% no mesmo período.
“O sentimento [de insatisfação] é praticamente onipresente aqui: as pessoas gostariam que a economia tecnológica perdesse um pouco a força”, destaca o líder oposicionista Aaron Peskin. “Essas companhias bilionárias deveriam amenizar o impacto que causam. Elas não podem se furtar a fazer muito mais. Até agora, é apenas fachada. Eles podem ser decentes por vontade própria”, prossegue.
Outro problema grave para a população gerado com boom das companhias de tecnologia é a gentrificação, nome dado ao processo de mudança imobiliária de uma região que encarece preços de venda e aluguel de imóveis. Atualmente, o aluguel de um apartamento com um único quarto não sai por menos de US$ 3,5 mil por mês — o maior de todos os Estados Unidos. Segundo o blog sobre mercado imobiliário Redfin, atualmente nem sequer um único professor de São Francisco tem condições de adquirir uma casa na cidade.
O dinheiro manda
“Todos os locatários que eu conheço vivem com medo”, comenta o professor do ensino médio Derrick Tynan-Connolly. “Se o proprietário morre, se o proprietário vende o edifício, se você é despejado sob a Lei Ellis [que permite ao proprietário recuperar um imóvel retirando-o do mercado de alugueis] e você precisa se mudar, você já era. Não há como se dar ao luxo de continuar em São Francisco”, prossegue o professor.
Adicione a esta receita sombria a superlotação da cidade, que ganha 10 mil novos moradores a cada ano, e é possível ter uma ideia do tamanho do problema. E para cada pessoa que se muda para a cidade, outras duas de comunidades vizinhas começam a trabalhar lá, gerando um congestionamento ainda maior nas ruas e lotando o transporte público — a velocidade média das vias expressas caiu 20% no município ao longo dos últimos dois anos.
“Há preocupações válidas de que São Francisco esteja se tornando uma plutocracia”, comenta a empreendedora Donna Burke. “O Vale do Silício se preocupava mais com mudar o mundo do que com dinheiro. Precisamos voltar àquele espírito”, conclui.
Fonte: The New York Times