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Quem são e o que pensam as profissionais do sexo virtual?

Por| 19 de Abril de 2016 às 09h03

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Quem são e o que pensam as profissionais do sexo virtual?
Quem são e o que pensam as profissionais do sexo virtual?

“Sexo é vida”, mas também é um tabu. Mesmo sendo uma atividade natural do ser humano, pensar em sexo e procurar por atividades que proporcionem prazer sexual é muitas vezes visto pela nossa sociedade como uma perversão. Então fomos atrás de informações pautadas na visão da medicina, da psicologia e da psiquiatria para tentar determinar o que é normal na busca por sexo pela internet, e o que foge da norma e se torna um problema.

Além disso, procuramos profissionais do sexo virtual para descobrir como é o outro lado da moeda: o lado de quem oferece sexo online (e ganha dinheiro com isso). Conversamos com três mulheres que trabalham como camgirls, ou webcam girls, atendendo a clientes virtuais em salas de bate-papo sexuais e realizando seus fetiches - que vão desde os mais básicos até aqueles normalmente guardados a sete chaves.

Isso é normal, doutor?

Para começo de conversa, é importante dizer que gostar de sexo, pornografia, erotismo e se interessar por fetiches como BDSM (sigla para "Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo”) ou podolatria não é problema algum. Quer dizer, segundo os especialistas em saúde mental, isso se torna um problema a partir do momento em que esses gostos pessoais causam sofrimento para o indivíduo ou para outras pessoas.

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Para o caso de pessoas que namoram ou são casadas e que não dispensam assistir a um vídeo pornô nos momentos de intimidade quando não acompanhados, o psicólogo Dinerson Fiuza diz que "isso é normal até o momento que passa a ser disfuncional, quando passa a prejudicar o relacionamento". Já o psicólogo Leonardo Viana de Vasconcelos, especializado em questões de sexologia, reforça que a "pornografia é normal até o ponto em que começa a gerar uma compulsão por parte da pessoa, que não consegue mais abandonar a pornografia onde quer que esteja, e isso tenha implicações diretas no seu desempenho no trabalho, vida familiar e pessoal". Para ele, "aí deve-se buscar ajuda".

Um dos diversos sites de webcam girls disponibilizados para o público brasileiro (Reprodução: Divulgação)

Outro sintoma de que o gosto pelo sexo pornográfico significa algum tipo de transtorno ou compulsão é quando o indivíduo não consegue praticar nenhuma atividade sexual sem ter a pornografia envolvida. Assistir a filmes eróticos ou pagar por sessões de camgirls pela internet é saudável enquanto uma ferramenta de estímulo que não atrapalha as funções sexuais normais, e quando problemas fisiológicos surgem, a pessoa também deve procurar ajuda.

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É o que acredita Carlo Foresta, urologista italiano que publicou, em 2011, uma pesquisa na revista Psychology Today, na qual revela uma ligação entre o consumo exagerado de pornografia e a impotência sexual no sexo ao vivo. Segundo o médico, pelo menos 70% dos jovens que procuram tratamento para sanar suas dificuldades com desempenho sexual são consumidores habituais de pornografia pela internet. O problema desses rapazes não seria físico, mas sim psicológico - uma vez que o sexo artificial, encenado nas produções eróticas, pode ser bastante diferente do sexo real.

Oferecendo prazer sexual pela internet

Do outro lado estão as pessoas que produzem conteúdo erótico e oferecem serviços sexuais pela internet. Conversamos com três camgirls: Mila Spook, Jully DeLarge e A.M (essa última preferiu não divulgar seu "nome de guerra"), que nos revelaram um pouco sobre como é a rotina de trabalho, o comportamento do público consumidor de sexo virtual e como elas se sentem trabalhando com sexo pela internet.

Mila conta que trabalhava como atriz de filmes eróticos, mas que após descobrir um site brasileiro de webcam girls decidiu dar um tempo das produções pornográficas e trabalhar sozinha, lidando com clientes reais no conforto de casa, atendendo pela internet. “No Brasil, é impossível viver só do pornô”, lamenta a camgirl que também faz “bicos” como bartender e barista, além de trabalhar como cabeleireira. Ela acredita que o trabalho como camgirl vai além da simples oferta de sexo virtual, muitas vezes fazendo também o papel de amiga e ouvinte. “Toda camgirl certamente já deu uma de psicóloga. Muitos caras aparecem apenas para conversar, e alguns realmente se importam com as meninas, o que é superbacana”, revela.

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Mila Spook atendendo a um cliente em sua sala de bate-papo sexual (Reprodução: Divulgação)

Jully tornou-se camgirl por desejo, já que trabalha com a indústria do sexo há um bom tempo e acabou abrindo uma produtora de pornografia alternativa chamada “Vida Libertina”. Ela confessa, sem pudores, que enquanto camgirl se excita ao se exibir para os clientes e se diverte durante todo o processo, não encarando o trabalho como uma atuação.

Já A.M tem uma história diferente, tendo vindo de uma formação universitária mais tradicional, mas encontrando na função de webcam girl uma fonte de renda satisfatória para complementar a remuneração de seu trabalho convencional. “Vi uma reportagem sobre uma camgirl brasileira que estava tirando uma graninha boa por fora de seus outros trabalhos. Na época eu estava juntando dinheiro e a partir da matéria fui pesquisar para saber exatamente o que o trabalho envolvia”, disse. Para A.M., ser camgirl é ser uma espécie de atriz, já que mesmo se masturbando durante a função ela não sente prazer sexual. Ela conta que “camgirl no Brasil é vista como uma garota que vai enfiar um vibrador onde o cliente pedir, mas ‘lá fora’ é diferente - são garotas normais fazendo coisas normais, inclusive se masturbar, como se estivessem à toa em casa, mas tendo sua intimidade mostrada a um público pela internet”.

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Público brasileiro X internacional

Perguntamos às garotas como costuma ser o comportamento de seus clientes e quais as principais diferenças entre o público brasileiro de sites de camgirl, e os clientes “gringos”.

Mila Spook nos disse que atende “todo tipo de homem com os fetiches mais estranhos, desde os ‘taradões’ até os que entram só para conversar”. Segundo ela, tem o público que gasta poucos créditos pedindo uma “rapidinha”, e tem os que ficam conectados por horas (e como o serviço é cobrado por minuto, é interessante para as girls que o cliente passe a maior quantidade de tempo possível conectado à sua sala). A maioria dos clientes de Mila é brasileira, e ela diz que, em geral, “são uns amores”, se deparando apenas com um ou outro mal-educado. Mas admite que “os gringos normalmente são mais tranquilos, não se preocupam tanto com o tempo e nem ficam apressando na hora do show. Alguns brasileiros entram afobados exigindo que façamos coisas para não gastar muito dinheiro”.

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A webcam girl Jully DeLarge (Reprodução: kojinanke)

Jully, que também atende basicamente somente brasileiros, acredita que sua “vibe” positiva com relação a sexo atraia clientes bacanas, que se excitam ao ver que estão agradando à camgirl e não somente o caminho inverso. “Atraio pessoas que respeitam suas próprias vontades e através da reciprocidade de interesses mantemos um bom e eficiente convívio virtual”, conta.

Já A.M prefere atender clientes estrangeiros. Ou melhor, ela não utiliza sites brasileiros e bloqueia usuários brasileiros dos sites internacionais em que trabalha. “Eu trabalhei por duas semanas em um serviço nacional de camgirls e minha depressão, que estava sob controle, voltou com tudo. Não faço mais atendimento a brasileiros nem pagando muito bem. Brasileiros costumam ser desrespeitosos e nos tratam como objetos”, desabafa.

Home office sexual

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De acordo com as três profissionais, trabalhar em casa é um enorme benefício e oferecer sexo pela internet é encarado como um trabalho como qualquer outro. Para Mila, “trabalhar na cam é fantástico, pois não preciso ver pessoas, posso ficar no meu mundo, na minha casa, ser quem eu sou, fumar, assistir a séries, ler, jogar, fazer tudo isso enquanto espero meus clientes. E o melhor: eu faço meus próprios horários”.

Jully reforça que, por ser um trabalho em home office, é necessário ter disciplina e foco se realmente desejar ganhar uma renda considerável com o trabalho, já que para criar uma relação com clientes e torná-los fixos é preciso estar sempre online nos dias e horários de costume. Do contrário, o cliente acabará escolhendo outra garota disponível no serviço naquele momento.

A.M, que preferiu não ser identificada, enquanto se exibe pela webcam de seu notebook (Reprodução: Divulgação)

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Por fim, A.M concorda com Mila sobre ter a liberdade de definir os próprios horários e ficar à vontade em casa entre um atendimento e outro, e também está de acordo com a ideia de Jully sobre disciplina e manutenção de uma escala de horários, mas, diferentemente das outras entrevistadas, ela prefere separar sua identidade pessoal da persona de camgirl. “Conheço meninas que começam a perder o equilíbrio entre o personagem de camgirl e a identidade real, e isso pode dar problemas. Para mim, é um trabalho e ponto. Desliguei a webcam, acabou”.

Com informações de Mundo Psicólogo, Your Brain on Porn, Dr. Judith Gelernter Reisman e The Great Porn Experiment