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Entenda por que a Intel desistiu do mercado de smartphones e tablets (Parte 3)

Por| 16 de Junho de 2016 às 22h56

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Entenda por que a Intel desistiu do mercado de smartphones e tablets (Parte 3)
Entenda por que a Intel desistiu do mercado de smartphones e tablets (Parte 3)
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Na primeira parte desse artigo, explicamos como o Atom surgiu, assim como foi adaptado para smartphones posteriormente, já que ele foi originalmente pensado para equipar notebooks e netbooks de baixo desempenho. Foi um processo difícil, já que se trata de um chip com instruções x86 passando a equipar modelos com sistema que nasceu e cresceu com chips ARM.

Os primeiros modelos com o Atom não tinham poder de fogo para competir no segmento de alto desempenho mesmo oferendo um nível de performance até respeitável, mas tinham alguns problemas que atrapalhavam sua aceitação pelo público. Exploramos isso na segunda parte, assim como a postura de mercado da Intel em trabalhar com produtos pouco competitivos, passando a mensagem de que os chips Intel não seriam a melhor opções em produtos mais avançados. Não foi culpa inteiramente do Atom, mas isso não alterou o resultado.

Agora vamos continuar explorando como o posicionamento de mercado da própria Intel acabou contribuindo também para um encerramento definitivo da produção do Atom, algo que tem um pouco a ver com o ciclo de atualizações do chip e também um pouco devido à concorrência.

Duopólio vs Livre Concorrência

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Em qualquer segmento de mercado, em qualquer lugar do mundo, tanto usuários comuns quanto empresas contam, basicamente, com duas opções de chips para desktop: Intel ou AMD. Sejam netbooks, notebooks, PCs, até mesmo datacenters de grande escala: as CPUs virão de uma ou outra empresa. Esse cenário é bem mais, digamos, tranquilo em relação à enorme competitividade dos chips de smartphones. Cenário tal a que a Intel não conseguiu se adequar, usando a mesma estratégia utilizada em PCs.

Em muitos aspectos, trata-se da mesma situação da Nvidia em relação ao mercado de smartphones. Também pertencente a um duopólio (NVIDIA vs AMD) no segmento de placas de vídeo, a empresa não teve o sucesso que gostaria com a sua linha Tegra, com o Tegra K1 sendo o último modelo previsto para smartphones. O argumento da empresa é a falta de inovação dos smartphones, algo difícil de acreditar, considerando que mais empresas começam a produzir chips para a atender à demanda dos usuários com uma bela frequência.

O mercado de PCs hoje conta com duopólios: Intel/AMD e AMD/NVIDIA

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Pois bem, a Intel competia somente com a AMD, e nem se trata de uma concorrência tão grande assim, já que os problemas financeiros da última impedem que ela concorra em pé de igualdade com a Intel. Se não fosse o caso, o Zen já teria sido lançado há tempos. No mercado de chips de smartphones porém, a Intel se viu concorrendo com uma quantidade muito maior de empresas, algo que a empresa não estava acostumada, já que, quanto maior a concorrência, mais rápido um certo segmento de mercado se desenvolve.

Isso significa que não há espaço para segurar tecnologias. Se uma empresa começa a atrasar o desenvolvimento do seu produto, começa a ficar defasada, e foi exatamente o que aconteceu. O Atom passou pelo mesmo processo de "Tic Tac" da linha Core, com um cronograma bem mais lento do que o seguido por empresas como Qualcomm, MediaTek, Samsun e até mesmo a Apple. Basta considerar que o ciclo de vida do Atom em smartphones (2012 -2016) começou com o Z2460 para chegar ao Z3580, enquanto a Samsung saiu do Exynos 4 Quad para chegar ao Exynos 8890.

Evoluiu? Sim. A tempo? Não.

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A Intel chegou a lançar uma nova linha (X3, X5 e X7), mas poucos smartphones foram equipados com seus novos chips (se é que algum), já que suas características os tornavam opções ideais para tablets. O "Tic Tac" foi o responsável pela falta de suporte ao 4K do Zenfone 2, já que trazia uma GPU desatualizada em relação aos concorrentes. Assim como o foco somente em desempenho bruto de CPU em detrimento aos outros concorrentes, que continham diferenciais importantes, como decodificadores de foto e vídeo mais avançados, gerenciamento de energia superior e suporte a linguagens mais recentes.

Mercado maduro vs mercado concorrido

A Intel seguiu a Lei de Moore, que era mais um cronograma que propriamente uma Lei, durante décadas. Quando os computadores começaram a se popularizar, um cenário semelhante ao que estamos passando nos smartphones, ainda que em fase final, a evolução das CPUs era enorme entre um ciclo e outro. O ganho de desempenho ficava na casa dos 30% entre uma geração e outra, contra aproximadamente 10% atualmente. Isso no melhor dos cenários.

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Só que agora o mercado de PCs amadureceu, com usuários trocando cada vez menos de máquinas, muitas vezes utilizando a mesma durante décadas. Enquanto alguns analistas atribuem isso ao fato de que os processadores atuais são "bons o suficiente", outros identificaram que há uma boa parcela de usuários trocando de máquina apenas quando vê uma mudança significativa. Trocar um desktop inteiro para ter um ganho de apenas 10% (novamente: no melhor dos cenários) não faz lá muito sentido.

O "Tic Tac" não foi capaz de concorrer com a altíssima evolução dos concorrentes.

Não podemos deixar de considerar as limitações físicas dos processadores também, com a Intel enfrentando cada vez mais dificuldades para reduzir o seu processo de fabricação. Um dos resultados disso é interpretado como o fim da Lei de Moore, já que a redução dos transistores começou a esbarrar nas limitações do próprio silício. Isso para a linha Core, que recebe a maior fatia da pequisa e desenvolvimento da Intel dedicada a chips. Não para o Atom.

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O resultado prático disso é que as já pequenas evoluções do Atom acabaram ficando concentradas na CPU, pouco sobrando para a GPU (que eram compradas de outras empresas, como a PowerVR) e extras do chip. Qualquer smartphone top de linha mais atual, como Galaxy S7, G5 (o modelo internacional, não o G5 SE) e iPhone já trazem desempenho suficiente para que praticamente não existam apps capazes de exigir tanto, e mesmo que ele fiquem mais potentes a cada geração, os usuários começaram a exigir mais do que somente performance, ou altas pontuações no Antutu.

A linha Atom X chegou com um bom processamento, mas era mais voltada para tablets.

Atualmente, o que está acontecendo nos smartphones é semelhante ao que ocorreu com os PCs anos atrás, com usuários trocando de smartphones esperando muito mais do que desempenho. Quem comprou um top de linha há dois anos dificilmente se sente motivado a trocar em busca de mais desempenho. Por exemplo, quem comprou um Moto Maxx pode até buscar um novo modelo, mas almejando outros recursos além da performance, já que o Snapdragon 805 é poderoso mesmo para os padrões de hoje.

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Usuários passaram a esperar mais autonomia de bateria, que deve ter mais capacidade e um chip mais eficiente, melhor tratamento das fotos e vídeos, GPUs capazes de rodar qualquer game e diferenciais de qualquer espécie. Enquanto isso, o Atom continuou com o marasmo do "Tic Tac", que inclusive era mais lento do que o da linha Core, ora diminuindo a litografia, ora aumentando um pouco o desempenho. Adotar um ciclo de evoluções que funciona em tempos de calmaria dentro da concorrência frenética que os smartphones passaram entre 2012 – 2016 faz com que a notícia do fim do Atom não seja tão surpreendente assim.

Conclusão

Em mercados concorridos, é perfeitamente normal que empresas entrem e saiam da concorrência. A bola da vez foi a Intel, mas não foi a primeira (a Texas Instruments, por exemplo, praticamente desapareceu nesse mercado) e não será a última, já que a própria NVIDIA está abandonando a sua linha Tegra. Conforme um segmento amadurece, esse é um processo natural, e ainda que seja difícil de imaginar que o mercado de SoCs vire um duopólio como Intel/AMD e AMD/NVIDIA, mais empresas sairão nos próximos anos com a lenta diminuição da febre de vendas dos primeiros anos.

O fato de a Intel ter chegado atrasada e inovar lentamente com o passar dos anos acelerou a sua saída, mas é praticamente impossível prever se o Atom estaria em uma posição de vantagem atualmente. Porém, quem aproveitou a febre desde o começo, como Qualcomm, Samsung e MediaTek, está colhendo os frutos de um desenvolvimento rápido e de acordo com o que os clientes esperam – e ainda contam com uns bons anos pela frente.

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Fontes: Recode, ExtremeTech 1 e 2