Polícia Federal teria monitorado WhatsApp de suspeitos de terrorismo
Por Durval Ramos | 21 de Julho de 2016 às 16h40
Após anunciar que prendeu um grupo suspeito de planejar um ataque terrorista no Rio de Janeiro durante as Olimpíadas no próximo mês de agosto, a Polícia Federal deu mais detalhes sobre a operação que resultou na descoberta de um envolvimento do grupo extremista Estado Islâmico com o caso. Mesmo sem dar muitos detalhes sobre o processo, a PF disse que monitorou conversas de WhatsApp e Telegram dos suspeitos antes de emitir os mais de 10 mandados de prisão revelados nesta quinta-feira (21).
De acordo com o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, os suspeitos faziam parte de um grupo virtual chamado “Defensores da Sharia” e tinham conversas que iam desde sobre comentários sobre o EI até os preparativos para o ataque durante os jogos. Moraes conta que, a partir do momento em que eles começaram a preparar para executar o plano, o Governo Federal tratou de agir rapidamente para evitar que qualquer coisa acontecesse.
Porém, a revelação fez com que uma grande dúvida surgisse: como a Polícia Federal monitorou essas conversas se os aplicativos de bate-papo utilizam um sistema de criptografia que torna impossível que qualquer outra pessoa tenha acesso ao conteúdo da conversa? Vale lembrar que o WhatsApp chegou a ser suspenso nesta semana, pela terceira vez em 2016, exatamente por não quebrar a proteção após um pedido da Justiça brasileira para isso.
Ministro da Justiça não revelou como polícia monitorou conversas criptografadas no WhatsApp
Tanto que o ministro se negou a dar detalhes sobre isso. De acordo com Moraes, qualquer mecanismo utilizado na investigação que revele procedimentos como esse ajudariam um suposto terrorista a driblar a Polícia Federal no futuro, criando enormes brechas de segurança. Ele ainda disse que é preciso que haja uma regulamentação para que a Justiça consiga ter acesso a essas informações online, interceptando dados que possa considerar necessários.
Já ao jornal Extra, o ministro da Justiça vai um pouco além e explica que agentes da PF conseguiram se infiltrar nesses grupos no WhatsApp, onde acompanharam de perto as conversas e os tais preparativos para os ataques. Além disso, Moraes revela que os terroristas brasileiros usaram o grupo para comemorar os atentados recentes do Estado Islâmico, nas cidades de Orlando (EUA) e Nice (França), além de compartilharem as execuções realizadas no Oriente Médio.
Algumas possibilidades
Se o ministro se recusa a explicar como obteve esses dados durante a Operação Hashtag, especialistas em segurança digital apontam possíveis caminhos tomados pelos agentes federais. Ao site G1, Altieres Rohr explica que é possível fazer o “grampo” de conversas no WhatsApp mesmo sem quebrar sua criptografia. Além de se infiltrar nos grupos, é possível infectar os smartphones dos suspeitos com um vírus para obter acesso aos bate-papos, assim como clonar o número junto com a operadora para acompanhar tudo o que é dito por esses indivíduos.
Outro caminho apontado pelo especialista é o uso de arquivos de backups dos chats. Aplicativos como o WhatsApp enviam cópias das conversas para o iCloud e Google Drive sem qualquer tipo de criptografia, o que facilita o trabalho da polícia. Para isso, contudo, ela precisaria do apoio da Apple e da Google para ter acesso a essas informações. Até o momento, porém, não foi confirmada a participação de nenhuma companhia na operação.