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Conheça os "biohackers", humanos que estão implantando chips em seus corpos

Por| 15 de Julho de 2014 às 11h30

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Conheça os "biohackers", humanos que estão implantando chips em seus corpos
Conheça os "biohackers", humanos que estão implantando chips em seus corpos

Já não é de hoje que a tecnologia faz parte do nosso dia a dia e cada vez mais contamos com ela para nos auxiliar nas mais diversas atividades diárias. A miniaturização dos componentes, sobretudo dos chips, no entanto, tem contribuído para o surgimento de um novo tipo de usuário: os ciborgues.

Sua popularização tem transformado estúdios de tatuagem e porões de todo o mundo em verdadeiros centros de implante de microchips. Aplicados sob a pele dos usuários, eles transformam pessoas comuns dispostas a irem até o limite da integração entre homem e máquina no que elas próprias chamam de "biohackers" e ciborgues. Há quem se arrisque apenas porque gosta de experimentar algo novo e há quem o faça porque quer melhorar ou adicionar novas funcionalidades ao próprio corpo.

As técnicas utilizadas para realizar a implantação dos chips não são tão triviais e até o momento nenhum hospital e/ou médico se dispõe a realizá-las. E é justamente por isso que cada vez mais pessoas têm recorrido a lojas como estúdios de tatuagem para realizar o procedimento ou executado tudo por conta própria - sem anestesia, diga-se de passagem.

Por mais estranho que possa parecer, o resultado é satisfatório. Para Zoe Quinn, uma renomada desenvolvedora entre os gamers indie, adicionar ímãs e um chip à sua mão foi uma das melhores coisas que ela já fez na vida e hoje não conseguiria viver sem eles. "Ser uma ciborgue é o que sou agora", disse a desenvolvedora à reportagem da NBC News. "Remover os ímãs e o chip seria como retirar um dos meus sentidos, como remover uma parte de mim", confessou.

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Zoe Quinn foi até a cidade de Nova Iorque para abrir um centímetro em todos os seus dedos e implantar um ímã na ponta deles (Foto: Reprodução/Giant Bomb)

As mãos e braços têm sido os locais mais escolhidos pelos biohackers por serem os locais onde a pele é menos espessa e permitir que os aparatos interajam com elementos externos. É o caso, por exemplo, do ímã adicionado por Quinn às suas mãos. Com ele, a desenvolvedora pode sentir campos eletromagnéticos próximos. Já o chip pode ser utilizado para enviar dados para smartphones e outros dispositivos ou servir como headphones permanentes se inseridos nos ouvidos.

Quinn conta que decidiu entrar para este mundo com um dos seus amigos em uma viagem à cidade de Nova Iorque. Lá, eles planejavam implantar ímãs nas pontas dos dedos. A situação, segundo ela, foi ao mesmo tempo cômica e dolorosa. Isso porque seu amigo quase desmaiou ao ver o "técnico" abrir quase um centímetro do seu dedo para colocar os ímãs. "Parecia que meu dedo tinha explodido", relata Quinn. "Todo o processo durou apenas alguns minutos, mas foram os minutos mais longos da minha vida".

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A recompensa, no entanto, veio cerca de duas semanas depois, quando todos os pontos haviam cicatrizado e Quinn pôde voltar ao trabalho. Ela conta como foi se sentir parte de algo totalmente novo. "Eu consegui sentir o meu disco rígido e tudo aquilo que fazia parte das coisas que eu uso para trabalhar e fazer a minha arte. Foi algo realmente bonito", conta ela.

Muito embora os precursores dos biohackers ou ciborgues de hoje tenham surgido há anos em contos como Frankenstein e filmes de ficção-científica como Robocop, somente agora tudo isso está dando seus primeiros passos. Não há dúvidas de que as técnicas e procedimentos empregados pelas pessoas são extremas e que elas são encorajadas principalmente pela mudança na forma como nos relacionamos hoje com os dispositivos tecnológicos que existem por aí. Cada vez mais nós os carregamos como talismãs em nossos bolsos e até mesmo os vestimos no formato de relógios inteligentes e óculos de realidade virtual.

Mesmo com tudo isso, para Amal Graafstra, um dos ciborgues responsáveis por criar os dispositivos utilizados pelos biohackers, ainda há um fosso enorme separando tecnologias como o Google Glass e o implante de tecnologias sob a pele. "Ainda há aquela repulsa, aquele receio de pessoas que fazem julgamentos superficiais e não sabem do que isso realmente se trata", revelou Graafstra.

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Para ele, esse preconceito só chegará ao fim quando as pessoas dispensarem a opinião pública e da comunidade médica. "Os médicos aceitam a tecnologia desde que ela seja restaurativa, que o traga de volta para o seu estado considerado normal. Mas basta conversar sobre tecnologia para aumentar suas capacidades que há uma reação incompreensível", desabafa Graafstra. Ele até relata que muitas vezes foi taxado de "louco" apenas por mencionar o assunto, sem que as pessoas sequer soubessem que ele próprio possuía inúmeros dispositivos sob sua pele.

Amal Graafstra é fundador da Dangerous Things, empresa que produz e fabrica dispositivos que podem ser implantados sob a pele. Ele próprio possui dois identificadores por radiofrequência RFid alocados em suas mãos (Foto: Reprodução/GeekWire)

Procurado pela NBC para expressar a opinião da comunidade médica, o doutor Barent Walsh desconversou e defendeu que o que os biohackers fazem "não pode ser considerado patológico". "Nós não vemos as tatuagens e piercings como autolesão por este ser um processo superficial", disse o médico. "E parece que o biohacking é uma extensão disso", finaliza.

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Alguns membros do movimento veem o biohacking como algo natural, como uma aproximação entre humanos e outros animais. É o caso, por exemplo, de Neil Harbisson, idealizador e fundador da Cyborg Foundation, que há quatro anos tenta quebrar o estigma em torno do assunto.

Portador de acromatopsia, Harbisson não consegue enxergar as cores e por isso implantou uma espécie de antena na sua cabeça que o ajuda a "ouvir" as variações de tons e a interpretá-las. "Sinto-me muito mais próximo de insetos que também têm antenas e de animais que podem sentir ondas ultravioleta e infravermelhas. É natural. Queremos tornar o termo 'ciborgue' em algo normal e comprovar que não se trata de ficção científica", disse o autoproclamado ativista dos ciborgues.

Neil Harbisson nasceu com acromatopsia, uma doença que o faz enxergar tudo em preto e branco. Para superar o mal, ele resolveu implantar uma espécie de sensor que o ajuda a interpretar as variações de tons (Foto: Reprodução/The Telegraph)

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Essa visão, contudo, não é compartilhada por todos os membros do meio. Para Isa Gordon, uma artista que explora o mundo cibernético se apresentando como uma personagem chamada Psymbiote, não é preciso implantar chips no seu corpo para se considerar um ciborgue. "Já somos ciborgues por natureza", disse ela. "Quando você envia um e-mail, você está se inserindo num sistema de comunicação entre homem e máquina. Esse é o conceito de cibernético, algo já extremamente difundido nos dias de hoje", defende a artista.

O desentendimento a respeito do conceito em si também se reflete no que esperar para o futuro. Para Graafstra, companhias de tecnologia como Apple, Google e Microsoft adquirirão startups de biohacking no futuro para criar e implantar dispositivos médicos, sensores fitness e outros.

Harbisson, por outro lado, acredita que o que acontecerá primeiro é a mudança na aceitação das pessoas e da comunidade médica. Ele aposta que os ciborgues passarão por um processo similar de aceitação como passaram aqueles que fizeram cirurgia de mudança de sexo há algumas décadas. Para ele, já na próxima década haverá uma "aceitação geral maior" e que pessoas que hackeam seu próprio corpo serão comuns já nos idos de 2040 e 2050.

Gordon é mais cautelosa e sugere que antes de qualquer coisa, pensemos a respeito do que a relação entre homens e tecnologia realmente significa antes de darmos os próximos passos adiante.

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"A tecnologia está mudando nosso mundo drasticamente e o nosso corpo se tornou em algo novo nisso tudo", disse ela. "Nos resta definir se ele se transformará num monstro ou em algo bonito de se apreciar".