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O efeito 'Jack, o Estripador' toma conta do universo mobile

Por| 25 de Agosto de 2014 às 11h34

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*Por Ana Laura Mello e Alexandre Rosas

A tendência se tornou evidente há pouco tempo. Se você tiver o app do Google Drive no seu iPhone ou Android e tentar abrir uma planilha ou documento de texto, vai se deparar com uma tela solicitando que baixe um novo app, o Planilhas.

A partir de certo momento, todas as funções de criação e edição de documentos, que antes eram realizadas no app principal, o Google Drive, foram separadas e migraram para apps separados — os chamados standaloneapps.

Outro que passou recentemente pelo mesmo processo foi o Foursquare, que permitia encontrar lugares bacanas e fazer check-in. Agora, para fazer as duas coisas, você precisa de dois apps distintos: o Foursquare e o Swarm, respectivamente.

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E não termina por aí. Num longo processo de mudança que está chegando agora à fase final, o app do Facebook também foi fatiado: cortaram o bate-papo do aplicativo principal e criaram o Facebook Messenger, app à parte que funciona integrado ao principal.

Por que todos esses serviços estão fazendo isso? O que está por trás dessa tendência? Existe algo de comum ligando essas iniciativas ou será mera coincidência?

Polêmicas à parte (o Facebook foi acusado de violar a privacidade dos usuários com o novo app, o que foi desmentido por veículos como o Mashable e pelo próprio Facebook, que criou uma página oficial explicando tudo), vamos encontrar a explicação para a mudança, como era de se esperar, nos interesses comerciais de cada empresa. Qual o caminho mais seguro para gerar receita e aumentar o faturamento?

No caso do Facebook, a empresa percebeu que as pessoas demoram muito para responder os amigos quando estão usando o chat do Facebook no celular, dando prioridade a outros apps de bate-papo, como o WhatsApp. Até mesmo no Facebook Messenger elas são 20% mais rápidas para responder do que quando estão no app principal.

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Isso estava prejudicando o Facebook, já que os apps de bate-papo concorrentes estavam afastando as pessoas da rede e, por consequência, comprometendo os negócios que tiram proveito justamente dos dados do bate-papo. Com o app de chat separado, uma parte dos “desertores” volta a conversar pela rede do Facebook. Problema (até certo ponto) resolvido. Resta saber se o Facebook Messenger crescerá o suficiente no médio e longo prazo.

Os casos do Foursquare e do Google Drive não são muito diferentes. O que está por trás dessa tendência de desmembramento é a mudança de comportamento trazida pela evolução do cenário mobile: antes, as startups competiam para segurar o usuário na tela do aplicativo, interagindo com ele o máximo de tempo possível. Isso significava que um único app tinha de dar conta de todos os recados a que tinha se proposto.

Hoje, os usuários ficaram tão à vontade com a crescente oferta de apps mobile, e encontram com tanta facilidade em outros lugares o que lhes interessa, que deixou de ser interessante concentrar tudo num só lugar: o mais importante é identificar o foco de interesse principal e oferecer às pessoas a melhor experiência possível dentro dele. Se uma parte das pessoas quer encontrar amigos nas redondezas e a outra quer encontrar um lugar bacana pra comer algo, oferecer as duas coisas no mesmo app aumenta o risco de que serviços concorrentes, mais especializados ou atraentes nessa ou naquela função, acabem roubando a clientela.

O que você faz? Cria você mesmo a alternativa mais especializada: os interessados em encontrar lugares ficam com o Foursquare, e os interessados em encontrar pessoas migram para o Swarm. Quem quiser as duas coisas mantém os dois, e todos ficam felizes. A mesma coisa para quem só trabalha com o Word, e nunca com planilhas, ou vice-versa: quem só trabalha com números e não precisa de um editor de texto. App de planilha para um, app de texto para o outro, ou os dois apps no mesmo celular para quem precisa de ambos.

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Ao que tudo indica, essa tendência deve continuar, pelo menos nos apps mais importantes, que atendem um número maior de usuários e oferecem uma gama relativamente ampla de funcionalidades. A palavra de ordem hoje parece ser especialização, ou foco. Quem se arrisca a prever onde isso vai parar? Qual será a próxima etapa da evolução mobile? Com a palavra, o usuário, que decide os destinos desse mercado mesmo sem se dar conta.

*Ana Laura Mello é co-fundadora e diretora de criação da Remix Social Ideas. Alexandre Rosas é redator da Remix Social Ideas.