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Mulheres Históricas: Emmy Noether, a “mais importante da história da matemática”

Por| 08 de Setembro de 2016 às 23h45

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Domínio Público
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Nascida na Alemanha, a matemática Emmy Noether viveu entre o final do século XIX e o início do século XX, conseguindo destaque em sua área de atuação em uma época em que as ciências exatas não tinham as portas exatamente abertas a profissionais do gênero feminino. Ela revolucionou as teorias sobre anéis, corpos e álgebra, sendo considerada a criadora da álgebra moderna. Além disso, Albert Einstein chegou a dizer que Emmy Noether foi “a mulher mais importante da história da matemática”.

Usar nome de homem para poder lecionar

A alemã Amalie Emmy Noether nasceu em 1882 em uma família judia. Filha de um pai matemático, Emmy inicialmente considerou ser professora de francês e inglês durante sua educação que seguiu os padrões tradicionais das jovens de boas famílias de sua época, mas acabou desistindo da ideia de trabalhar com idiomas e, aos 18 anos, decidiu estudar matemática na Universidade de Erlangen-Nuremberg – onde seu pai lecionava.

Por ser mulher, a instituição não permitiu que ela se inscrevesse para participar oficialmente do curso, mas a influência de seu pai fez com que Emmy fosse autorizada a assistir às aulas por dois anos. Depois, seu talento abriu portas para a realização de um exame que lhe permitiu iniciar um doutorado na área desejada, tornando-se uma aluna de fato. Anos mais tarde, Noether defendeu sua tese sob a supervisão do também matemático Paul Gordan, tornando-se a segunda mulher a obter um diploma na área de Matemática e, na sequência, trabalhando no Instituto Matemático de Erlangen sem receber salário por incríveis sete anos.

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Já em 1915, Emmy foi convidada para fazer parte do departamento de matemática da Universidade de Göttingen, uma instituição renomada internacionalmente como um centro de investigação matemática. Contudo, a Universidade foi contra conceder um posto oficial a Noether e, por isso, ela passou quatro anos dando aulas sob o nome de David Hilbert. Na verdade, esse não foi um nome inventado por Emmy para poder lecionar: ela se apropriou do nome de um colega que, juntamente com Felix Klein, estava trabalhando com a Teoria da Relatividade de Einstein nessa mesma universidade. A dupla convidou Emmy para se juntar a seu grupo de pesquisa, e, quando a universidade se recusou a contratar uma mulher, Hilbert ofereceu seu nome para que a matemática conseguisse pelo menos dar palestrar, mesmo sem remuneração. No entanto, por possuir um talento único para trabalhar com conceitos abstratos e visualizar conexões complexas, Noether conquistou o respeito de seus novos alunos e também do corpo docente.

Em 1919, enfim, a matemática conseguiu o posto de Privatdozent – um título universitário alemão que serve para designar professores com habilitação para lecionar, mas sem a cátedra de ensino ou e pesquisa. Sendo assim, um Privatdozent não recebe remuneração por parte do governo.

Mesmo com tantos empecilhos para seguir a desejada carreira acadêmica como matemática, Emmy continuou sendo um dos membros mais importantes do departamento dessa ciência exata em Göttingen até 1933, e seus alunos muitas vezes eram chamados de “os meninos de Noether”. Mas esse reconhecimento somente tomou forma depois que o matemático holandês B. L. van der Waerden se tornou o principal expositor das ideias da célebre matemática, fazendo com que o trabalho de Emmy se tornasse a base para o segundo volume de seu livro didático pra lá de influente, publicado em 1931, chamado “Moderne Algebra”. Com isso, Emmy Noether passou a ser considerada a criadora da álgebra moderna.

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Ainda na década de 1930, o governo nazista decidiu expulsar os judeus que ocupavam postos em universidades, e Noether precisou se mudar para os Estados Unidos, onde trabalhou no Brun Mawr College, na Pensilvânia. Nessa instituição reconhecida mundialmente, a matemática acabou lecionando e convivendo apenas com mulheres pela primeira vez em seu histórico. Mas em 1935 a acadêmica descobriu um cisto ovariano e, mesmo tendo realizado uma cirurgia em segredo, acabou morrendo apenas quatro dias depois, com apenas 53 anos de idade, surpreendendo não somente a seus colegas de trabalho e amigos, como toda a comunidade matemática da época.

Trabalho que revolucionou a matemática e a física

O trabalho de Noether pode ser dividido em três principais períodos. O primeiro durou de 1908 a 1919, quando ela fez contribuições significativas à teoria dos invariantes e dos corpos numéricos. Foi nessa época que a matemática desenvolveu o Teorema de Noether, “um dos teoremas matemáticos mais importantes já provados dentre os que guiaram o desenvolvimento da física moderna”.

O segundo período aconteceu entre 1920 e 1926, quando Noether começou trabalhos que mudaram a face da álgebra abstrata. Isso porque em seu artigo pra lá de clássico chamado Idealtheorie in Ringbereichen (“Teoria de ideais nos domínios dos anéis”), de 1921, Emmy transformou a teoria dos ideais em anéis comutativos em uma poderosa ferramenta matemática que serve para diversas aplicações.

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Já o terceiro período principal de seu trabalho foi o que ocupou os anos entre 1927 e 1935, e foi nessa época que Noether conseguiu publicar seus principais trabalhos sobre álgebras não comutativas e números hipercomplexos, realizando a união entre a teoria das representações dos grupos com a teoria dos módulos e ideais. Além de ter publicado trabalhos autorais, Emmy também permitiu que outros matemáticos publicassem suas ideias e linhas de investigação, o que acabou afetando campos bastante distantes de seu trabalho principal, como, por exemplo, a topologia algébrica.

Mulher, judia, gênio e militante pelos direitos femininos

Emmy Noether publicou mais de 40 artigos em toda sua carreira como matemática, muitos deles que revolucionaram não somente esta área de atuação, como também a física teórica. Além disso, como professora ela também era atenciosa e didática, inspirando muitos de seus alunos a fazer suas próprias contribuições para o campo da matemática nos anos subsequentes.

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A mulher que conseguiu mostrar ao mundo que a matemática não tinha segredos para as mulheres, que eram tão capazes quanto os homens também nessa área de estudo e pesquisa, viveu uma vida de luta pelos direitos femininos na academia e é, até os dias de hoje, um exemplo de resiliência, de força de vontade e de batalha pela igualdade de gêneros na academia. Além disso, Emmy superou barreiras que iam além das questões de gênero, pelo fato de ter sido uma judia em uma Alemanha contaminada por uma onda de antissemitismo.

Na ocasião de seu falecimento, Albert Einstein – o físico teórico e um dos cientistas mais importantes da história recente, que havia usado o trabalho de Noether sobre a teoria dos invariantes para formular parte de seu trabalho com a relatividade – chegou a chamá-la de “o gênio matemático criativo mais significativo já produzido desde que a educação superior para mulheres foi iniciada”. E, bom, se uma mente brilhante do porte de Einstein chamou Emmy Noether de gênio, quem somos nós para retrucar, não é mesmo?

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