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Análise | Blazing Chrome homenageia jogos retrô, mas traz personalidade própria

Por| 22 de Julho de 2019 às 13h24

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(Captura de Imagem: Rafael Arbulu)
(Captura de Imagem: Rafael Arbulu)

Não demorei muito para perceber que Blazing Chrome, a criação do estúdio brasileiro Joymasher, com produção da The Arcade Crew, seria o meu tipo de jogo: quando moleque, costumava passar raiva nas incontáveis mortes sofridas em Contra e celebrava cada inimigo abatido em Metal Slug, de onde esse jogo tira suas mais óbvias inspirações. Ora, em minha carreira, até trabalhei um pouco em Hard Corps: Uprising, um dos “Contras moderninhos” lançados pela KONAMI no PlayStation 3.

Desnecessário dizer: eu estava empolgado por Blazing Chrome. Ansioso, até. E rapaz, eu adoro quando as minhas expectativas são atendida.

O enredo de Blazing Chrome pouco importa, mas se você é mais purista como eu, lá vai: a humanidade está em frangalhos, com alguns pedaços de uma pífia e pobre resistência travando o bom combate contra um futuro dominado por máquinas. Pronto. Com o pano de fundo estabelecido com uma simples introdução no comecinho do jogo, você agora pode dar início a uma aventura de progressão lateral que presta homenagem a grandes títulos da década de 1990 — notavelmente Contra e Metal Slug, citados acima.

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A presença desse DNA retrô é óbvia já na explicação dos controles: inimigos aparecem de ambos os lados, em enxames e ondas de variados tamanhos e, por vezes, lotam a tela de alvos para você disparar com armas que vão desde as metralhadoras mais básicas, até “chicotes” de energia, tiros de plasma e o que mais os upgrades que aparecem na tela lhe trouxerem. Outros recursos constituem robôs de ataque (o dobro de volume em combate ofensivo), defesa (mais resistência a tiros) e velocidade (navegação ultrarrápida e pulo duplo para acessar áreas inacessíveis).

Você, como combatente, tem a opção de mirar em todas as áreas da tela, em 360º. Também pode, com um botão, fixar seu personagem em um ponto e controlar apenas a mira (aumenta a sua precisão, mas também o risco, já que você fica parado). Completam o pacote níveis a la Battletoads, com jet skis, salto de obstáculos e combate contra inimigos aéreos e marítimos, robozões (mechs) que você controla ao saltar com seu personagem sobre eles, chefões dos mais variados (uma média de dois ou três por nível). O botão de tiro tem função dupla e corta com um tipo de peixeira elétrica qualquer oponente que chegar muito perto.

E sim, você vai precisar de tudo isso: a jogabilidade, enredo e apresentação parecem bastante simples, mas isso é apenas o arranhar da superfície — Blazing Chrome traz toda a dificuldade presente nos jogos de outrora, mas não se acanha de inserir seu próprio modus operandi na condução da jogabilidade. Ao contrário dos jogos de duas décadas atrás, ele estabelece checkpoints e mais upgrades para os jogadores mais casuais, mas o faz de uma forma tão inteligente que, o que em teoria poderia tornar o game mais fácil, acaba mostrando que você vai precisar de cada ajudinha. No modo Fácil, o jogo já é bem exigente. Em modos mais complicados, as benesses vão aos poucos sendo removidas.

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Isso tudo é uma forma de introduzir as novas gerações de jogadores a uma rotina de jogo conhecida pelos mais veteranos como algo conturbado e dificultoso, destinado apenas para aqueles que buscavam experiências de alta adrenalina e muito desafio, com alto risco e altas recompensas, por assim dizer. Mas engana-se quem pense que Blazing Chrome é um “Contra mais burrinho”: o jogo não deve em nada e, em muitos casos, supera seus predecessores.

Outro ponto interessante — este apelando ao coração dos mais velhos — é a configuração visual nos menus: há opções de mudar os gráficos do jogo para duas ou três opções de visuais em monitores CRT, dando aquela impressão antiquada, como se você estivesse de fato jogando em um console ou desktop das antigas. A experiência é, ao mesmo tempo, nostálgica e surreal.

Há, claro, momentos de frustração desnecessária: a "peixeirada" é imprecisa e, dependendo do momento, mais atrapalha do que ajuda, especialmente nos chefões. O controle da mira também tem surtos estranhos, ora duro demais (e atrasando sua chegada em um inimigo que já está atirando em você), ora sensível demais (e percorrendo toda a tela, fazendo você perder seu senso de direção). Nada, porém, que seja especificamente ruim ou que quebre a experiência do gameplay como um todo.

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O jogo em si não é grande, mas tem bastante coisa para fazer se você for do tipo dedicado: quatro níveis a serem completados em qualquer ordem, depois um quinto que funciona como conclusão do modo principal. Três níveis de dificuldade — Fácil, Normal e Hardcore (este último, destravado apenas quando você terminar o jogo no Normal) — para serem atravessados, que por sua vez habilitam outros formatos de jogo: um de combate a chefes, outro que inverte todos os níveis, tal qual um espelho. Dois personagens adicionais, destravados após despender horas em partidas, sendo que eles possuem mecanismos diferentes de combate — tudo isso mostra o quanto Blazing Chrome busca homenagear a cultura gamer noventista, mas, ao mesmo tempo, também serve de prova do quanto ele quer se sustentar com suas próprias pernas.

No que tange a criar uma ponte entre a nostalgia sofredora daquela época e uma certa casualidade da geração atual, Blazing Chrome conta com mecanismos que não apelam para os extremos: geralmente você terá oportunidades de testar, em graus variados de segurança, situações mais espinhosas. Isso, claro, antes de o jogo repetir essas mesmas situações de uma forma mais cruel.

Em suma, Blazing Chrome é um jogo de mais ou menos uma hora e meia de duração, mas exigirá tanto de você que revisitá-lo — seja pelas mortes em excesso, seja pelo afã de destravar tudo o que ele permite — será praticamente uma exigência que você vai se autoimpor. Com isso, a Joymasher entrega uma experiência vívida, inteligente e extremamente divertida.

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Blazing Chrome está disponível no PC, PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch. No Canaltech, o jogo foi analisado no PC com cópia gentilmente cedida pela Joymasher.