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Entenda como foi e por que o dia virou noite em São Paulo na segunda (19)

Por| 20 de Agosto de 2019 às 14h19

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Entenda como foi e por que o dia virou noite em São Paulo na segunda (19)
Entenda como foi e por que o dia virou noite em São Paulo na segunda (19)

A tarde da última segunda-feira (19) proporcionou um céu digno de filmes distópicos e apocalípticos em São Paulo, capital: de repente, as nuvens ficaram escuras e densas, e a cidade precisou acionar sua iluminação artificial já antes mesmo das 16h. Usar a palavra "pânico" seria um exagero, mas é fato que a população ficou espantada com o fenômeno, que de natural não teve muita coisa: isso aconteceu como consequência de dias seguidos de queimadas na região amazônica.

E quem afirma isso não somos nós, são os meteorologistas: Helena Balbino, do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), explica que tudo aconteceu como consequência de massas de ar vindas de localizações variadas, incluindo ventos do Sudeste e do Norte, o que "fez com que São Paulo estivesse imersa em uma nuvem com muitas partículas poluentes". Traduzindo: as nuvens que causaram o breu paulistano em plena tarde de segunda-feira foram resultado de excesso de poluição.

Mas estamos falando da poluição normal da maior cidade do Brasil? Também não. Segundo especialistas do Climatempo, essa poluição extrema e inesperada foi proveniente das queimadas que estão acontecendo na região amazônica nos últimos dias, em especial nos estados do Acre e Rondônia, com a fumaça enfim chegando a São Paulo pela ação dos ventos, contribuindo para com a formação dessas nuvens escuras assustadoras.

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E Josélia Pegorim, meteorologista do Climatempo, garante: "a fumaça não veio de queimadas do estado de São Paulo, mas sim de queimadas muito densas e amplas que estão acontecendo há vários dias em Rondônia e na Bolívia; a frente fria mudou a direção dos ventos e transportou essa fumaça para São Paulo".

Entendendo o fenômeno mais a fundo

De acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE), a soma de fatores como o tempo úmido e a entrada de ar de origem polar fez com que as temperaturas caíssem moderadamente desde as primeiras horas da madrugada de segunda na capital paulista e, segundo o INMET, ao unir o fenômeno natural da frente fria e úmida com o fenômeno causado pelas queimadas amazônicas, o resultado foi, então, o céu escuro digno do Mundo Invertido na cidade.

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"O material particulado, oriundo da fumaça produzida por esses incêndios silvestres de grande porte, conjugado com o ar frio e úmido que está no litoral de São Paulo, causou a escuridão", afirma Franco Vilela, meteorologista do INMET. E, para piorar, a cidade "está dentro de uma nuvem" por conta da atuação de duas massas com temperaturas diferentes. “Isso acontece por conta dessa convergência de massas tão diferentes. A frente fria da capital, junto com as temperaturas amenas que vêm do oceano e do vento quente do interior, provocam essa turbulência e isso baixou o nível da nuvem. Assim, nós estamos dentro de uma nuvem," reforça Balbino.

Já no final de semana, a direção dos ventos estava levando a fumaça em direção ao sul do Brasil. Com a chegada da frente fria ao Sudeste, a fumaça começou então a ser direcionada para o estado de São Paulo, também de acordo com informações do Climatempo.

Além da capital paulista, em muitas áreas do interior do estado também foi possível notar uma redução na visibilidade no horizonte, com o céu ficando acinzentado ou em tons amarronzados e amarelados, por conta do mesmo motivo que fez o céu da capital ficar preto no meio da tarde. O Climatempo explica que o vento das camadas mais elevadas da atmosfera (entre 100 metros e 500 metros de altitude) mudou de direção com a passagem da frente fria, fazendo com que a fumaça proveniente da região amazônica fosse direcionada ao Sudeste, também impactando algumas áreas na região sul de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, chegando até mesmo ao norte do Paraná, onde o céu foi tomado por fumaça visível também na segunda-feira.

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Satélites registram tudo o que aconteceu

O satélite Terra/MODIS, da NASA, acompanha as mudanças meteorológicas de todo o mundo, incluindo o Brasil. Por meio de imagens registradas por este satélite na segunda-feira, podemos ver uma cama de fumaça concentrada no extremo sul do Brasil já no dia 17 de agosto, avançando em direção ao Mato Grosso do Sul e ao Paraná no dia seguinte, passando, então, por São Paulo no dia 19. "Repare que a camada de fumaça também se espalhou sobre partes de Minas Gerais e do Rio de Janeiro", aponta Pegorim.

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E também em imagens obtidas por meio do Terra/MODIS, é possível ver a nebulosidade natural do período e a fumaça causada pelas queimadas, que não se confundem nas imagens. "As nuvens são mais densas, com volume, espessas e mais brancas. Já a fumaça aparece como um véu uniforme, em geral fino, com transparência. Em algumas áreas é possível ver a camada de fumaça sobre nuvens", explica Pegorim.

Sendo assim, mesmo a milhares de quilômetros de distância, os paulistanos viram no céu (e sentiram "na pele") o que as populações de estados como Acre, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará e Maranhão já estão sentindo por semanas consecutivas durante o inverno, em especial no fim da estação, período em que as queimadas costumam se intensificar e acabam se alastrando pelo país. "Não chove, o ar fica muito seco e quase sem nuvens, mas não se vê o azul do céu, só o amarelado da fumaça e o Sol escondido por ela", explica Pegorim, que reforça o seguinte: "tudo isto é comum nesta época do ano nestes estados antes de recomeçar a chover, mas, em 2019, o número de focos de fogo no Brasil é o maior em 5 anos".

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Sendo assim, o "céu apocalíptico" avistado em São Paulo é fruto da ação irresponsável do próprio Homem, e devemos aproveitar o momento do susto para refletir sobre como estamos tratando nosso planeta, e as consequências disso para nós mesmos, inclusive. Basta olhar para cima para ver como nós estamos alterando o meio ambiente e causando danos ao único planeta onde a vida floresceu — até onde podemos afirmar com certeza científica.

*Com informações de G1 e Climatempo