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Stadia: como funciona o sistema de streaming de jogos do Google

Por| 18 de Outubro de 2020 às 16h30

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Divulgação/Google
Divulgação/Google
Google Stadia

O Google anunciou seu serviço de streaming de jogos Stadia no ano passado com pompa e circunstância. Mas o lançamento e evolução da plataforma não acompanharam a importância que a empresa parecia dar para ela. Prestes a completar um ano de funcionamento, a quantas anda o ambicioso sistema de jogos online? É o que contamos a seguir.

Primeiras impressões

Indo direto ao assunto — caso queira saber ler sobre o serviço, o processo de criação de conta, requisitos e o ambiente de teste, é só continuar lendo — o Stadia funcionou bem como uma alternativa para quem está acostumado a jogar em consoles. Jogadores que não largam seus PCs para nada e não abrem mão de recursos como 120 FPS (ou mais), suporte a mods e configurações gráficas avançadas não terão motivos para trocar de plataforma.

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No Stadia, as opções para ajustar os gráficos ficam praticamente por conta do servidor, o jogador geralmente tem apenas controle sobre a resolução da transmissão de vídeo (720p, 1080p ou 4K, este último exclusivo para assinantes do Stadia Pro) e ajustes de brilho. Assim como nos consoles, é responsabilidade do desenvolvedor encontrar um conjunto de opções que funcionem bem — neste caso ao serem executados nos servidores do Google.

Durante a avaliação do serviço, tanto gráficos quanto controles, os pontos mais críticos para quem joga, funcionaram bem. A qualidade de imagem não é impecável ao ver capturas de tela estáticas, mas em movimento os gráficos se saíram bem. A exceção foram alguns momentos curtos em que foi possível notar macroblocos, não muito diferente de quando a qualidade de streaming oscila em serviços de vídeos online e parte das imagens fica quadriculada.

Já os controles ainda dividem opiniões. Ao jogar é possível notar um pequeno atraso nas respostas — que precisam sair do dispositivo, ir até os computadores do Stadia onde são processados e depois devolvem a resposta em forma de vídeo — mas nada que estrague a jogabilidade. Em pouco tempo acabamos nos acostumando com ele e “compensando” a latência sem pensar.

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No caso do game Destiny 2, além do input lag esperado de um serviço na nuvem, ações como pular e agachar incluem animações extras que passam a impressão de um atraso maior do que o normal.

Já em games com respostas mais diretas, como o Bomberman Online R, o resultado dos comandos foi quase imediato. A simplicidade do jogo, no qual o personagem se move em quatro direções e tem um conjunto limitado de ações, pode ter influenciado a sensação.

Neste ponto é possível notar como diferentes tipos de jogadores avaliam a experiência oferecida pelo Stadia de maneira distinta. Amigos com monitores de 144 Hz ou acostumados a configurar os games para obter o máximo de desempenho acharam o tempo de resposta dos controles ruins. Quem está acostumado a jogar na televisão da sala — especialmente aqueles que não conhecem ou se dão ao trabalho de ajustar a TV para o modo de baixa latência — provavelmente não irá se incomodar.

Na prática, apesar de ter notado um tempo de resposta maior do que o dos jogos nativos, o funcionamento do Stadia agradou. Mais importante do que isso, a transmissão dos comandos e dos gráficos não pareceu afetar o resultado nas partidas.

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Enquanto isso, no celular...

O mesmo não pode ser dito da experiência encontrada ao usar a plataforma com um smartphone. Apesar de seguir a recomendação de conexão a rede Wi-Fi de 5 GHz, o Stadia exibiu alguns alertas de problemas de estabilidade de comunicação com o servidor, que eram acompanhados de engasgos nas imagens e controle.

Ao normalizar a conexão, porém, o serviço funcionou de maneira satisfatória, mesmo utilizando um Dual Shock 4 via Bluetooth com o celular. Ao jogar Destiny 2, até mesmo as referências visuais dos botões no game se adaptaram ao gamepad do PlayStation, exibindo legendas apropriadas para os comandos (triângulo, quadrado, círculo, X, Option, gatilhos, etc).

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Upgrades terceirizados

Com a chegada da nova geração de consoles e o suporte nativo a recursos como taxa de atualização a 120 Hz e a promessa de redução da latência dos comandos, o Stadia pode ficar para trás. Mas sempre há a possibilidade de o Google aumentar a taxa de quadros por segundo da transmissão (para quem possui uma TV, monitor ou smartphone com alta taxa de atualização) para melhorar o desempenho da plataforma, com a contrapartida de um maior custo de processamento nos servidores e maior consumo de banda.

Da mesma maneira, apesar de oferecer instâncias com placas de vídeo com 10 teraflops de potência que serão superadas pelo Xbox Series X, nada impede que o Stadia receba upgrades de GPU sem que os usuários precisem gastar dinheiro ou tempo para fazer a troca do componente.

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Em resumo, o Stadia não será a plataforma de jogadores competitivos ou que usam termos como “PCMR“, pelo menos não no estágio atual do serviço. Mas eles não parecem ser o público que o Google procura. Por outro lado, o enorme grupo de jogadores casuais, especialmente os que estão entre os consoles e os celulares, podem encontrar vantagens na abordagem do serviço, mas...

Muito a melhorar

Na sua forma atual, o Stadia possui algumas características que dificultam recomendá-lo, a começar pelo modelo de negócios. Ter que comprar os jogos (ou mais precisamente uma licença de uso) impõe uma etapa que afasta o serviço de jogadores casuais, e novamente, o histórico do Google de abandonar produtos não inspira confiança para adquirir um título “AAA”.

Além disso, o número de jogos oferecidos pelo serviço ainda é limitado, apesar de alguns bons títulos. Nem mesmo a quantidade de games incluídos com a assinatura Pro — 29, na data de publicação do texto — ajuda na comparação com o streaming do Xbox Game Pass. Além de contar com mais de 100 jogos, a assinatura da Microsoft inclui a estrela do catálogo do Stadia Pro, Destiny 2. E, *spoilers*, as mesmas dificuldades enfrentadas pelo Google devem ser encontradas pela Amazon com seu serviço Luna.

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A falta de títulos leva a um clássico problema de “ovo e galinha”. Com poucos jogos fica difícil atrair mais jogadores, o que complica conquistar o apoio de editoras como Activision (Call of Duty). E com poucos jogadores surge outro ponto fraco do Stadia, os jogos multiplayer exclusivos.

Em games como Bomberman, a falta de jogadores na plataforma causa longas esperas em lobbies para reunir a quantidade necessária para uma partida, superiores a um minuto na média do período de avaliação. O problema é minimizado em títulos cross-play, mas estes não ajudam a vender a plataforma.

Outro problema causado pela falta de jogadores é que isso não incentiva o uso de recursos exclusivos prometidos no anúncio do serviço, alguns deles até hoje não lançados ou subaproveitados. Um exemplo disso é a opção de se juntar à partida de um streamer no meio da transmissão, batizado de Crowd Play. O sistema está disponível apenas em caráter de testes para um número reduzido de títulos: Mortal Kombat 11, Dead by Daylight e Super Bomberman R, mas não foi possível testar o recurso durante o período de avaliação.

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Nesse ponto também, a falta de jogadores não incentiva os estúdios a incluir o recurso. No caso de algumas transmissões com o Crowd Play, os influenciadores distribuíram licenças dos jogos e recomendaram o registro no período de testes para aumentar a base de jogadores para as partidas. Apenas um investimento maior do Google para que mais jogos suportem o sistema e mais influenciadores utilizem os recursos exclusivos da plataforma pode atrair uma base de jogadores ao Stadia.

O que é o Stadia

O serviço do Google oferece jogos que são executados nos servidores da empresa, que recebem os comandos do celular ou computador do jogador e retornam os gráficos e sons do game. Como o processamento é feito remotamente, não é preciso ter um aparelho potente para jogar, podendo ser usado até mesmo um simples Chromebook.

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Para referência, testamos o serviço usando um PC já defasado, com processador Intel Core i5-3450, 16 GB de memória RAM DDR3L-1600 e placa de vídeo GeForce GTX 1070. Jogos como Destiny 2 até rodam bem na configuração (que passa raspando pelos requisitos de sistema recomendados), mas pedem uma redução nas opções gráficas para garantir o mesmo desempenho oferecido pelo Stadia.

Diferentemente do Amazon Luna ou do serviço de streaming do Xbox Game Pass — antigo xCloud — o Stadia não exige uma assinatura para jogar. Ou seja, não é bem um Netflix de games, comparação que se aplica aos rivais, nos quais uma mensalidade fixa libera todo o catálogo de jogos.

Por outro lado, no Stadia é necessário comprar os títulos caso o jogador queira usá-los, ou então aproveitar os games incluídos na assinatura Stadia Pro. O plano pago oferece alguns jogos para acesso imediato que mudam a cada mês, 29, na data de publicação do texto, mas ao cancelar a assinatura o usuário perde o direito de jogá-los, assim como acontece na PSN Plus ou Games with Gold.

A assinatura dá ainda descontos na compra de jogos selecionados e a opção de resolução 4K HDR e som surround 5.1. O acesso sem o Stadia Pro em jogos adquiridos é limitado à resolução Full HD, com som estéreo.

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O modelo de negócios do Stadia levanta algumas dúvidas na hora de comprar os games, especialmente para quem acompanha a quantidade de serviços cancelados a cada ano pelo Google.

A parte chata: criação de perfil

Depois de selecionar seu perfil de usuário no Google — não são aceitas contas profissionais — o cadastro irá perguntar se você comprou o kit Founders Edition, pedir para aceitar os termos de uso (ainda não disponível em português), criar um perfil na plataforma — semelhante ao perfil na Live ou PSN, com avatar e apelido — e configurar uma infinidade de opções de privacidade

Durante a criação de um usuário no Stadia, o processo deixa claro que a troca de avatar é liberada, mas os apelidos não (pelo menos até o Google mudar de ideia), então é bom pensar duas vezes para não se arrepender daqui há alguns anos. O nome usado não pode conter caracteres especiais, o que para um serviço norte-americano significa que letras com cedilha ou acentos não são aceitos...

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Terminados os passos, a página finalmente oferece a opção para iniciar o período de teste do serviço pago. O processo exige o cadastramento de um cartão de crédito, que pode ter sido emitido no Brasil, e não cobra o valor da mensalidade durante os dias da avaliação. É possível cancelar a assinatura do serviço antes do fim do período de avaliação, o procedimento evita a cobrança em caso de esquecimento e mantém os 30 dias de teste do Stadia Pro.

Requisitos

Antes de testar o Stadia, o Google sugere que o usuário verifique a velocidade de conexão à internet. A empresa recomenda pelo menos 10 mbps (megabits por segundo) de velocidade, ou no mínimo 35 mbps para resolução 4K. A documentação do serviço sugere esta página para testar a conexão do dispositivo, e recomenda o uso de uma boa rede Wi-Fi (de preferência usando a frequência de 5 GHz) ou, se possível, um cabo de rede no modem de acesso.

É possível usar o Stadia com conexão celular, mas é importante destacar que a opção consome muitos gigabytes de dados — até 4,5 GB/hora em resolução padrão, 12,6 GB/hora em FullHD e 20 GB/hora em 4K — o que afeta planos de internet com limite de franquia.

A avaliação foi realizada com um desktop com ligação via powerline a um roteador com conexão de fibra óptica. O teste de velocidade sugerido pelo Google indicou uma conexão suficiente, com mais de 59 mbps. Já o tempo de resposta com os servidores do Google foi de aproximadamente 40 milissegundos, medida com o uso de uma ferramenta independente, que testa a latência com diferentes regiões do serviço Google Cloud.

Conclusão

Como tecnologia, o Stadia tem vários pontos a seu favor. O sistema simplifica tarefas chatas como atualizações de sistema, instalação de correções de jogos, gerenciamento do armazenamento do PC/console e tem o potencial de upgrades gráficos sem que o jogador gaste dinheiro. O serviço funcionou bem e não restringiu ou atrapalhou a experiência nos jogos testados.

Quem possui uma conexão e dispositivo que atende aos requisitos do serviço, além de morar em uma região próxima a um servidor do Google — seja em um dos datacenters do Google Cloud ou nas chamadas máquinas "edge" instaladas mais próximas dos usuários, inclusive nos provedores de acesso, como lembrou o leitor Douglas nos comentários —, poderia muito bem usar o Stadia sem precisar do alto investimento inicial necessário para jogar no PC ou em um console.

Por outro lado, o modelo de negócios da plataforma e a limitação do catálogo não inspiram confiança para investir nos jogos oferecidos pelo Stadia. Até mesmo a não inclusão do serviço no novo Chromecast levanta dúvidas sobre o comprometimento do Google com seu sistema.

E a mesma desconfiança causada nos jogadores acaba afetando os estúdios de games, que acabam não convertendo sucessos de público como PES, Grand Theft Auto, Overwatch e Call of Duty.

Mesmo assim, quando o Stadia eventualmente chegar ao Brasil vale a pena aproveitar o período de teste para ver se as coisas mudaram. Na situação atual — e lembrando da distribuição de data-centers do Google e do desafio para instalar servidores locais para as diversas regiões do país — fica difícil recomendar a assinatura do serviço. O período de avaliação do Stadia deixa uma sensação de que a empresa perdeu a chance de marcar território antes do lançamento do PlayStation 5 e Xbox Series X|S.

Correção: O texto original citava a falta de títulos da Electronic Arts, mas a editora já anunciou o lançamento de jogos para a plataforma, incluindo o FIFA 2021. A informação foi corrigida no texto, além disso, foram incluídos alguns comentários sobre a possibilidade de uso de servidores locais (edge).